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Pode ser algo bem complicado, o oceano. E pode ser algo bem complicado, o que é a saúde humana. E juntá-los pode parecer uma tarefa intimidadora. Mas o que vou tentar dizer é que mesmo nessa complexidade, há alguns assuntos simples que creio que, se entendermos, podemos avançar. E esses assuntos não são na verdade temas sobre a complexa ciência do que está acontecendo, mas de coisas que são bem conhecidas. E vou começar com essa. Se a mamãe não está feliz, ninguém está feliz. Sabemos disso, certo? Passamos por isso. E se pegarmos isso e construirmos a partir disso, então podemos ir ao próximo passo, que é se o oceano não está feliz, ninguém está feliz. Esse é o tópico da minha palestra. E estamos deixando o oceano muito infeliz de diversas maneiras. Essa é uma foto de Cannery Row em 1932. Cannery Row, nessa época, tinha a maior indústria de enlatados da costa oeste. Nós liberamos enormes quantidades de poluição no ar e na água. Rolf Bolin, que era um professor universitário na Hopkin's Marine Station, onde trabalho, escreveu na década de 40 que, "Os gases da espuma que flutuava na enseada da baía eram tão ruins que encardiram tintas á base de chumbo de preto." Trabalhadores dessa indústria dificilmente ficavam ali o dia todo por causa do cheiro. Mas sabem o que eles diziam? Eles diziam, "Sabe o que você respira? Você respira dinheiro." A poluição era renda para a comunidade. E essas pessoas lidaram com a poluição e a absorveram na pele e em seus corpos porque precisavam do dinheiro. Deixamos o oceano infeliz; deixamos pessoas muito infelizes, e as deixamos enfermas. A ligação entre a saúde do oceano e a saúde humana é na verdade baseada em alguns poucos e simples provérbios. E quero chamá-la de "belisque um peixinho, machuque uma baleia." A pirâmide da vida no oceano. Agora, quando um ecologista olha para oceano, tenho de lhes dizer, olhamos para o oceano de uma maneira muito diferente, e vemos coisas distintas das que uma pessoa normal vê nele. Porque quando um ecologista olha para o oceano, vemos todas essas interconexões. Vemos a base da cadeia alimentar, os plânctons, as coisas pequenas, e vemos como esses animais são comida para os animais do meio da pirâmide, e assim por diante no diagrama. E esse fluxo, esse fluxo de vida, desde a base até o topo, é o fluxo que os ecologistas vêem. E isso é o que estamos tentando preservar quando dizemos, "Salve o oceano. Cure-o." É essa pirâmide. Agora por que isso importa para a saúde humana? Porque quando introduzimos algo na base da pirâmide que não devia estar lá, coisas muito assustadoras acontecem. Poluentes, alguns criados por nós, moléculas como os PCBs que não podem ser desfeitos em nosso organismo. E eles vão para a base dessa pirâmide, e eles flutuam, vão sendo transmitidos, para predadores e vão para o topo da pirâmide. E assim, eles acumulam. Agora pra se familiarizar com isso, eu inventei um jogo. Nós não precisamos jogá-lo. Podemos apenas pensar sobre ele. É o jogo do isopor e do chocolate. Imagine que quando chegamos a esse barco, nós recebemos dois flocos de isopor. Não se pode fazer muito com eles a não ser guardar no bolso. Porque as regras são: toda vez que você oferece uma bebida a alguém, você dá a bebida a ela, e lhe dá um floco de isopor também. O que acontecerá é que os flocos de isopor vão se espalhar por essa sociedade. E vão acumular nas pessoas mais bêbadas e pão-duras. Não tem mecanismo nesse jogo para eles irem em algum lugar senão um maior e maior monte de indigestos flocos de isopor. E é exatamente isso que acontece com os PCBs nessa pirâmide alimentar. Eles acumulam no topo dela. Agora suponha que ao invés de isopor, nós pegássemos esses bonitos pequenos chocolates que ganhamos e os tivéssemos. Bem, alguns de nós os comeriam ao invés de dá-los a outros. E ao invés de acumulá-los, eles apenas ficariam em nosso grupo e não em outros. Porque eles são absorvidos por nós. E essa é a diferença entre o PCB e, vamos ver, algo natural como o omega-3, algo que queremos obter da cadeia alimentar marinha. PCBs acumulam. Temos ótimos exemplos disso, infelizmente. PCBs acumulam em golfinhos na Baía de Sarasota, no Texas, na Carolina do Norte. Eles entram na cadeia alimentar. Os golfinhos comem peixes que tem PCBs obtidos dos plânctons, e esses PCBs, sendo solúveis na gordura, acumulam nesses golfinhos. Agora, um golfinho, golfinho mãe, qualquer um -- só há uma maneira de o PCB ser expelido de seu organismo. E qual é? No leite materno. Aqui está um gráfico da quantidade de PCB em golfinhos na baía de Sarasota. Machos adultos, uma enorme quantidade. Jovens, uma enorme quantidade. Fêmeas após ter seu primeiro filhote desmamado, uma quantidade menor. Essas fêmeas, elas não estão tentando. Essas fêmeas estão transmitindo os PCBs na gordura do seus próprios leites para sua cria. E sua cria não sobrevive. A taxa de mortalidade nesses golfinhos, para o primeiro filhote de cada golfinho fêmea, é de 60 a 80 por cento. Essas mães bombeiam sua primeira cria cheia desse poluente. E a maioria morre. Agora, a mãe pode reproduzir normalmente, mas que terrível preço a se pagar pelo acúmulo desse poluente nesses animais -- a morte do primeiro filhote. Há outro grande predador no oceano, parece. Esse predador, é claro, somos nós. E também estamos comendo carne que vem de alguns desses mesmos lugares. Essa é a carne de baleia que eu fotografei em um supermercado em Tokyo -- ou não é? De fato, o que fizemos alguns anos atrás foi aprender como manipular um laboratório de biologia molecular em Tokyo e usá-lo para testar genéticamente o DNA de amostras de carne de baleia e identificar quais realmente eram. E algumas dessas amostras realmente eram carne de baleia. Algumas delas eram carnes ilegais, falando nisso. Essa é outra história. Mas algumas delas não eram de baleia. Apesar de estarem rotuladas como tal, eram de golfinho. Algumas delas eram fígado de golfinho. Algumas eram banha de golfinho. E essas partes de golfinhos tinham enorme quantidade de PCBs, dioxinas e metais pesados. E essa enorme quantidade estava sendo transmitida a pessoas que comiam essa carne. Acontece que muitos golfinhos estão sendo vendidos como carne no mercado de carne de baleia ao redor do mundo. É uma tragédia para essas populações. Mas também é uma tragédia para quem as está comendo porque eles não sabem que essa carne é tóxica. Tínhamos essas informações alguns anos atrás. Me lembro de sentar à minha mesa sendo a única pessoa no mundo que sabia que carne de baleia estava sendo vendida nesses mercados na verdade era de golfinho, e era tóxica. Tinha duas a três a 400 vezes a quantidade de toxinas permitidas pela EPA. E eu lembro de sentar à minha mesa pensando, "Bem, eu sei disso. É uma grande descoberta científica." Mas era tão terrível. E pela primeira vez na minha carreira científica eu quebrei o protocolo, que é pegar os dados e publicá-los em periódicos científicos, e então falar sobre eles. Mandamos uma carta educadíssima para o ministro da saúde no Japão e apenas apontamos que essa é uma situação intolerável, não para nós, mas para as pessoas no Japão. Porque mães que podem estar amamentando, que podem ter crianças pequenas, estariam comprando algo que pensam ser saudável, mas na verdade é tóxico. Isso levou a uma série de outras campanhas no Japão. E tenho orgulho de dizer que agora é muito difícil comprar algo no Japão que está rotulado errôneamente, apesar deles ainda venderem carne de baleia, o que acredito que eles não deveriam. Mas pelo menos ela está rotulada corretamente, e você não mais comprará carne de golfinho tóxica. Não é apenas lá que isso acontece, mas na dieta natural de algumas comunidades no ártico Canadense, nos Estados Unidos e no ártico Europeu, uma dieta natural de focas e baleias leva a uma acumulação de PCBs que foram reunidos de todos os cantos do mundo e acabaram nessas mulheres. Essas mulheres tem leite tóxico. Elas não podem amamentar sua prole, suas crianças, o leite de seu peito por causa do acúmulo dessas toxinas em sua cadeia alimentar, na sua parte da pirâmide oceânica mundial. Isso significa que o sistema imunológico delas está comprometido. Isso quer dizer que o desenvolvimento de suas crianças pode estar comprometido. E a atenção mundial nisso na última década têm reduzido o problema para essas mulheres, não por mudar a pirâmide, mas por mudar o que elas comem de cada animal. As tiramos de sua pirâmide natural para resolver esse problema. Isso é algo bom para esse problema em particular, mas não adianta nada resolver o problema da pirâmide. Há outras maneiras de quebrar essa pirâmide. A pirâmide, se introduzirmos coisas em sua base, pode voltar como em um esgoto entupido. E se introduzirmos nutrientes, esgoto, fertilizantes na base dessa pirâmide, eles podem voltar em toda sua extensão. E terminaremos com coisas que já ouvimos antes: marés vermelhas, por exemplo, que são o crescimento de algas tóxicas flutuando pelos oceanos causando danos neurológicos. Também podemos ter o crescimento de bacterias, crescimento de vírus no oceano. Essas são duas fotos de uma maré vermelha invadindo a costa e uma bactéria no gênero vibrião, que inclui o gênero que tem cólera. Quantas pessoas viram uma placa de "praia interditada"? Por que isso acontece? Acontece porque introduzimos tantas coisas na base dessa pirâmide natural oceânica que essas bactérias se entupiram e encheram as nossas praias. Frequentemente o que nos enche é o esgoto. Agora quantos de vocês já foram a um parque estadual ou nacional onde havia uma grande placa na frente dizendo, "Fechado porque o esgoto humano está tão espalhado pelo parque que não se pode usá-lo"? Não com frequência. Não toleraríamos isso. Não toleraríamos nossos parques sendo entupidos de esgoto. Mas muitas praias estão fechadas em nosso país. Elas estão fechadas mais e mais ao redor do mundo pelo mesmo motivo. E acredito que não devíamos tolerar isso também. Não é apenas uma questão de higiene. É também uma questão de como esses organismos se transformam em doenças. Esses vibriões, essas bactérias, podem na verdade infectar pessoas. Elas podem penetrar na sua pela e criar infecções. Esse é um gráfico da iniciativa de saúde oceânica e humana do NOAA, mostrando o crescimento de infecções por vibriões nas pessoas nos últimos anos. Surfistas, por exemplo, inacreditavelmente sabem disso. E se você puder ver alguns sites de surf, de fato, você não apenas vê como são as ondas ou o clima, mas nos sites de alguns surfistas você vê um pequeno alerta de excrementos. Isso significa que essa praia pode ter ótimas ondas, mas é um lugar perigoso para surfistas porque eles podem pegar, mesmo depois de uma ótima surfada, esse legado de uma infecção que pode levar muito tempo para curar. Algumas dessas infecções são na verdade resistentes à antibióticos. E isso as faz ainda mais difíceis de combater. Essas mesmas infecções criam crescimentos de algas nocivas. Esses crescimentos geram outros tipos de agentes químicos. Essa é apenas uma simples lista de alguns tipos de venenos que surgem do crescimento dessas algas nocivas: envenenamento por molusco, ciguatera, envenenamento diarréico por molusco -- vocês vão querer saber disso -- envenenamento neurotóxico e envenenamento paralítico por moluscos. Essas são coisas que estão na nossa cadeia alimentar por causa desses crescimentos exagerados. Rita Calwell traçou muito famosamente uma história interessantíssima de cólera em comunidades humanas, levada lá, não por um vetor humano normal, mas por um vetor marinho, esse copépode. Copépodes são pequenos crustáceos. Eles medem uma minúscula fração de um centímetro. E podem levar nas suas pequenas patas algumas das bactérias da cólera que então leva a doença humana. Isso acendeu a epidemia de cólera em portos ao redor do mundo e levou a uma preocupação crescente para tentar ter certeza de que o correio não levasse esses vetores de cólera pelo mundo. Então o que fazer? Temos grandes problemas em ecossistemas com fluxo interrompido que a pirâmide pode não estar funcionando bem, que o fluxo da base até o topo está sendo bloqueado e entupido. O que você faz quando tem esse tipo de fluxo interrompido? Bem, tem algumas coisas que podem ser feitas. Você pode chamar o Encanador Joe, por exemplo. E ele pode vir e consertar o fluxo. Mas de fato, se você olhar pelo mundo, existem não só lugares em que ainda há esperança onde podemos ser capazes de consertar esse problema, mas há lugares onde isso já foi consertado, onde pessoas agarraram essas questões e começaram a transformá-las. Monterey é um desses lugares. Comecei mostrando quanto tínhamos afligido o ecossistema da baía de Monterey com poluição e a indústria de enlatados e todos os problemas relacionados. Em 1932 essa é a foto. Em 2009 a foto é notavelmente diferente. As indústrias se foram. A poluição foi controlada. Mas há um sentido maior aqui sobre o que as comunidades precisam são ecossistemas que funcionam. Elas precisam de uma pirâmide funcional da base ao topo. E essa pirâmide em Monterey, agora, por causa do esforço de muitas pessoas, está funcionando melhor do que nunca nos últimos 150 anos. Isso não aconteceu por acaso. Aconteceu porque muitas pessoas investiram seu tempo e esforço e seu espírito pioneiro nisso. A esquerda, Julia Platt, a prefeita da minha cidade natal em Pacific Grove. Aos 74 anos, se tornou prefeita porque algo tinha de ser feito para proteger o oceano. Em 1931, ela produziu a primeira área marinha da califórnia protegida pela comunidade, bem próxima a indústria que mais poluía porque Julia sabia que quando as fábricas se fossem, o oceano precisava de um lugar para crescer, que o oceano precisava de um lugar para plantar uma semente. E ela queria fornecer essa semente. Outras pessoas, David Packard e Julie Packard, que foram fundamentais na produção do aquário da baía de Monterey para fixar na mente das pessoas que o oceano e a saúde de seu ecossistema eram tão importantes para a economia dali quanto comer. Essa mudança de pensamento levou a uma mudança drástica, não só nas fortunas da baía de Monterey, quanto em outros lugares pelo mundo. Bem, quero deixá-los com um pensamento que, o que estamos mesmo querendo fazer aqui é proteger a pirâmide oceânica. E essa pirâmide se conecta a nossa própria pirâmide da vida. É um planeta oceânico, e nos imaginamos como espécies terrestres. Mas a pirâmide da vida no oceano e nossas vidas na terra estão fortemente ligadas. E é apenas através de um oceano saudável que podemos permanecer saudáveis. Muito obrigado.
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Pode ser algo bem complicado, o oceano.
[ "pode", "ser", "algo", "bem", "complicado", "o", "oceano" ]
[ "O", "O", "O", "O", "I-COMMA", "O", "I-PERIOD" ]
Pode ser algo bem complicado, o oceano. E pode ser algo bem complicado, o que é a saúde humana. E juntá-los pode parecer uma tarefa intimidadora. Mas o que vou tentar dizer é que mesmo nessa complexidade, há alguns assuntos simples que creio que, se entendermos, podemos avançar. E esses assuntos não são na verdade temas sobre a complexa ciência do que está acontecendo, mas de coisas que são bem conhecidas. E vou começar com essa. Se a mamãe não está feliz, ninguém está feliz. Sabemos disso, certo? Passamos por isso. E se pegarmos isso e construirmos a partir disso, então podemos ir ao próximo passo, que é se o oceano não está feliz, ninguém está feliz. Esse é o tópico da minha palestra. E estamos deixando o oceano muito infeliz de diversas maneiras. Essa é uma foto de Cannery Row em 1932. Cannery Row, nessa época, tinha a maior indústria de enlatados da costa oeste. Nós liberamos enormes quantidades de poluição no ar e na água. Rolf Bolin, que era um professor universitário na Hopkin's Marine Station, onde trabalho, escreveu na década de 40 que, "Os gases da espuma que flutuava na enseada da baía eram tão ruins que encardiram tintas á base de chumbo de preto." Trabalhadores dessa indústria dificilmente ficavam ali o dia todo por causa do cheiro. Mas sabem o que eles diziam? Eles diziam, "Sabe o que você respira? Você respira dinheiro." A poluição era renda para a comunidade. E essas pessoas lidaram com a poluição e a absorveram na pele e em seus corpos porque precisavam do dinheiro. Deixamos o oceano infeliz; deixamos pessoas muito infelizes, e as deixamos enfermas. A ligação entre a saúde do oceano e a saúde humana é na verdade baseada em alguns poucos e simples provérbios. E quero chamá-la de "belisque um peixinho, machuque uma baleia." A pirâmide da vida no oceano. Agora, quando um ecologista olha para oceano, tenho de lhes dizer, olhamos para o oceano de uma maneira muito diferente, e vemos coisas distintas das que uma pessoa normal vê nele. Porque quando um ecologista olha para o oceano, vemos todas essas interconexões. Vemos a base da cadeia alimentar, os plânctons, as coisas pequenas, e vemos como esses animais são comida para os animais do meio da pirâmide, e assim por diante no diagrama. E esse fluxo, esse fluxo de vida, desde a base até o topo, é o fluxo que os ecologistas vêem. E isso é o que estamos tentando preservar quando dizemos, "Salve o oceano. Cure-o." É essa pirâmide. Agora por que isso importa para a saúde humana? Porque quando introduzimos algo na base da pirâmide que não devia estar lá, coisas muito assustadoras acontecem. Poluentes, alguns criados por nós, moléculas como os PCBs que não podem ser desfeitos em nosso organismo. E eles vão para a base dessa pirâmide, e eles flutuam, vão sendo transmitidos, para predadores e vão para o topo da pirâmide. E assim, eles acumulam. Agora pra se familiarizar com isso, eu inventei um jogo. Nós não precisamos jogá-lo. Podemos apenas pensar sobre ele. É o jogo do isopor e do chocolate. Imagine que quando chegamos a esse barco, nós recebemos dois flocos de isopor. Não se pode fazer muito com eles a não ser guardar no bolso. Porque as regras são: toda vez que você oferece uma bebida a alguém, você dá a bebida a ela, e lhe dá um floco de isopor também. O que acontecerá é que os flocos de isopor vão se espalhar por essa sociedade. E vão acumular nas pessoas mais bêbadas e pão-duras. Não tem mecanismo nesse jogo para eles irem em algum lugar senão um maior e maior monte de indigestos flocos de isopor. E é exatamente isso que acontece com os PCBs nessa pirâmide alimentar. Eles acumulam no topo dela. Agora suponha que ao invés de isopor, nós pegássemos esses bonitos pequenos chocolates que ganhamos e os tivéssemos. Bem, alguns de nós os comeriam ao invés de dá-los a outros. E ao invés de acumulá-los, eles apenas ficariam em nosso grupo e não em outros. Porque eles são absorvidos por nós. E essa é a diferença entre o PCB e, vamos ver, algo natural como o omega-3, algo que queremos obter da cadeia alimentar marinha. PCBs acumulam. Temos ótimos exemplos disso, infelizmente. PCBs acumulam em golfinhos na Baía de Sarasota, no Texas, na Carolina do Norte. Eles entram na cadeia alimentar. Os golfinhos comem peixes que tem PCBs obtidos dos plânctons, e esses PCBs, sendo solúveis na gordura, acumulam nesses golfinhos. Agora, um golfinho, golfinho mãe, qualquer um -- só há uma maneira de o PCB ser expelido de seu organismo. E qual é? No leite materno. Aqui está um gráfico da quantidade de PCB em golfinhos na baía de Sarasota. Machos adultos, uma enorme quantidade. Jovens, uma enorme quantidade. Fêmeas após ter seu primeiro filhote desmamado, uma quantidade menor. Essas fêmeas, elas não estão tentando. Essas fêmeas estão transmitindo os PCBs na gordura do seus próprios leites para sua cria. E sua cria não sobrevive. A taxa de mortalidade nesses golfinhos, para o primeiro filhote de cada golfinho fêmea, é de 60 a 80 por cento. Essas mães bombeiam sua primeira cria cheia desse poluente. E a maioria morre. Agora, a mãe pode reproduzir normalmente, mas que terrível preço a se pagar pelo acúmulo desse poluente nesses animais -- a morte do primeiro filhote. Há outro grande predador no oceano, parece. Esse predador, é claro, somos nós. E também estamos comendo carne que vem de alguns desses mesmos lugares. Essa é a carne de baleia que eu fotografei em um supermercado em Tokyo -- ou não é? De fato, o que fizemos alguns anos atrás foi aprender como manipular um laboratório de biologia molecular em Tokyo e usá-lo para testar genéticamente o DNA de amostras de carne de baleia e identificar quais realmente eram. E algumas dessas amostras realmente eram carne de baleia. Algumas delas eram carnes ilegais, falando nisso. Essa é outra história. Mas algumas delas não eram de baleia. Apesar de estarem rotuladas como tal, eram de golfinho. Algumas delas eram fígado de golfinho. Algumas eram banha de golfinho. E essas partes de golfinhos tinham enorme quantidade de PCBs, dioxinas e metais pesados. E essa enorme quantidade estava sendo transmitida a pessoas que comiam essa carne. Acontece que muitos golfinhos estão sendo vendidos como carne no mercado de carne de baleia ao redor do mundo. É uma tragédia para essas populações. Mas também é uma tragédia para quem as está comendo porque eles não sabem que essa carne é tóxica. Tínhamos essas informações alguns anos atrás. Me lembro de sentar à minha mesa sendo a única pessoa no mundo que sabia que carne de baleia estava sendo vendida nesses mercados na verdade era de golfinho, e era tóxica. Tinha duas a três a 400 vezes a quantidade de toxinas permitidas pela EPA. E eu lembro de sentar à minha mesa pensando, "Bem, eu sei disso. É uma grande descoberta científica." Mas era tão terrível. E pela primeira vez na minha carreira científica eu quebrei o protocolo, que é pegar os dados e publicá-los em periódicos científicos, e então falar sobre eles. Mandamos uma carta educadíssima para o ministro da saúde no Japão e apenas apontamos que essa é uma situação intolerável, não para nós, mas para as pessoas no Japão. Porque mães que podem estar amamentando, que podem ter crianças pequenas, estariam comprando algo que pensam ser saudável, mas na verdade é tóxico. Isso levou a uma série de outras campanhas no Japão. E tenho orgulho de dizer que agora é muito difícil comprar algo no Japão que está rotulado errôneamente, apesar deles ainda venderem carne de baleia, o que acredito que eles não deveriam. Mas pelo menos ela está rotulada corretamente, e você não mais comprará carne de golfinho tóxica. Não é apenas lá que isso acontece, mas na dieta natural de algumas comunidades no ártico Canadense, nos Estados Unidos e no ártico Europeu, uma dieta natural de focas e baleias leva a uma acumulação de PCBs que foram reunidos de todos os cantos do mundo e acabaram nessas mulheres. Essas mulheres tem leite tóxico. Elas não podem amamentar sua prole, suas crianças, o leite de seu peito por causa do acúmulo dessas toxinas em sua cadeia alimentar, na sua parte da pirâmide oceânica mundial. Isso significa que o sistema imunológico delas está comprometido. Isso quer dizer que o desenvolvimento de suas crianças pode estar comprometido. E a atenção mundial nisso na última década têm reduzido o problema para essas mulheres, não por mudar a pirâmide, mas por mudar o que elas comem de cada animal. As tiramos de sua pirâmide natural para resolver esse problema. Isso é algo bom para esse problema em particular, mas não adianta nada resolver o problema da pirâmide. Há outras maneiras de quebrar essa pirâmide. A pirâmide, se introduzirmos coisas em sua base, pode voltar como em um esgoto entupido. E se introduzirmos nutrientes, esgoto, fertilizantes na base dessa pirâmide, eles podem voltar em toda sua extensão. E terminaremos com coisas que já ouvimos antes: marés vermelhas, por exemplo, que são o crescimento de algas tóxicas flutuando pelos oceanos causando danos neurológicos. Também podemos ter o crescimento de bacterias, crescimento de vírus no oceano. Essas são duas fotos de uma maré vermelha invadindo a costa e uma bactéria no gênero vibrião, que inclui o gênero que tem cólera. Quantas pessoas viram uma placa de "praia interditada"? Por que isso acontece? Acontece porque introduzimos tantas coisas na base dessa pirâmide natural oceânica que essas bactérias se entupiram e encheram as nossas praias. Frequentemente o que nos enche é o esgoto. Agora quantos de vocês já foram a um parque estadual ou nacional onde havia uma grande placa na frente dizendo, "Fechado porque o esgoto humano está tão espalhado pelo parque que não se pode usá-lo"? Não com frequência. Não toleraríamos isso. Não toleraríamos nossos parques sendo entupidos de esgoto. Mas muitas praias estão fechadas em nosso país. Elas estão fechadas mais e mais ao redor do mundo pelo mesmo motivo. E acredito que não devíamos tolerar isso também. Não é apenas uma questão de higiene. É também uma questão de como esses organismos se transformam em doenças. Esses vibriões, essas bactérias, podem na verdade infectar pessoas. Elas podem penetrar na sua pela e criar infecções. Esse é um gráfico da iniciativa de saúde oceânica e humana do NOAA, mostrando o crescimento de infecções por vibriões nas pessoas nos últimos anos. Surfistas, por exemplo, inacreditavelmente sabem disso. E se você puder ver alguns sites de surf, de fato, você não apenas vê como são as ondas ou o clima, mas nos sites de alguns surfistas você vê um pequeno alerta de excrementos. Isso significa que essa praia pode ter ótimas ondas, mas é um lugar perigoso para surfistas porque eles podem pegar, mesmo depois de uma ótima surfada, esse legado de uma infecção que pode levar muito tempo para curar. Algumas dessas infecções são na verdade resistentes à antibióticos. E isso as faz ainda mais difíceis de combater. Essas mesmas infecções criam crescimentos de algas nocivas. Esses crescimentos geram outros tipos de agentes químicos. Essa é apenas uma simples lista de alguns tipos de venenos que surgem do crescimento dessas algas nocivas: envenenamento por molusco, ciguatera, envenenamento diarréico por molusco -- vocês vão querer saber disso -- envenenamento neurotóxico e envenenamento paralítico por moluscos. Essas são coisas que estão na nossa cadeia alimentar por causa desses crescimentos exagerados. Rita Calwell traçou muito famosamente uma história interessantíssima de cólera em comunidades humanas, levada lá, não por um vetor humano normal, mas por um vetor marinho, esse copépode. Copépodes são pequenos crustáceos. Eles medem uma minúscula fração de um centímetro. E podem levar nas suas pequenas patas algumas das bactérias da cólera que então leva a doença humana. Isso acendeu a epidemia de cólera em portos ao redor do mundo e levou a uma preocupação crescente para tentar ter certeza de que o correio não levasse esses vetores de cólera pelo mundo. Então o que fazer? Temos grandes problemas em ecossistemas com fluxo interrompido que a pirâmide pode não estar funcionando bem, que o fluxo da base até o topo está sendo bloqueado e entupido. O que você faz quando tem esse tipo de fluxo interrompido? Bem, tem algumas coisas que podem ser feitas. Você pode chamar o Encanador Joe, por exemplo. E ele pode vir e consertar o fluxo. Mas de fato, se você olhar pelo mundo, existem não só lugares em que ainda há esperança onde podemos ser capazes de consertar esse problema, mas há lugares onde isso já foi consertado, onde pessoas agarraram essas questões e começaram a transformá-las. Monterey é um desses lugares. Comecei mostrando quanto tínhamos afligido o ecossistema da baía de Monterey com poluição e a indústria de enlatados e todos os problemas relacionados. Em 1932 essa é a foto. Em 2009 a foto é notavelmente diferente. As indústrias se foram. A poluição foi controlada. Mas há um sentido maior aqui sobre o que as comunidades precisam são ecossistemas que funcionam. Elas precisam de uma pirâmide funcional da base ao topo. E essa pirâmide em Monterey, agora, por causa do esforço de muitas pessoas, está funcionando melhor do que nunca nos últimos 150 anos. Isso não aconteceu por acaso. Aconteceu porque muitas pessoas investiram seu tempo e esforço e seu espírito pioneiro nisso. A esquerda, Julia Platt, a prefeita da minha cidade natal em Pacific Grove. Aos 74 anos, se tornou prefeita porque algo tinha de ser feito para proteger o oceano. Em 1931, ela produziu a primeira área marinha da califórnia protegida pela comunidade, bem próxima a indústria que mais poluía porque Julia sabia que quando as fábricas se fossem, o oceano precisava de um lugar para crescer, que o oceano precisava de um lugar para plantar uma semente. E ela queria fornecer essa semente. Outras pessoas, David Packard e Julie Packard, que foram fundamentais na produção do aquário da baía de Monterey para fixar na mente das pessoas que o oceano e a saúde de seu ecossistema eram tão importantes para a economia dali quanto comer. Essa mudança de pensamento levou a uma mudança drástica, não só nas fortunas da baía de Monterey, quanto em outros lugares pelo mundo. Bem, quero deixá-los com um pensamento que, o que estamos mesmo querendo fazer aqui é proteger a pirâmide oceânica. E essa pirâmide se conecta a nossa própria pirâmide da vida. É um planeta oceânico, e nos imaginamos como espécies terrestres. Mas a pirâmide da vida no oceano e nossas vidas na terra estão fortemente ligadas. E é apenas através de um oceano saudável que podemos permanecer saudáveis. Muito obrigado.
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E pode ser algo bem complicado, o que é a saúde humana.
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[ "O", "O", "O", "O", "O", "I-COMMA", "O", "O", "O", "O", "O", "I-PERIOD" ]
Pode ser algo bem complicado, o oceano. E pode ser algo bem complicado, o que é a saúde humana. E juntá-los pode parecer uma tarefa intimidadora. Mas o que vou tentar dizer é que mesmo nessa complexidade, há alguns assuntos simples que creio que, se entendermos, podemos avançar. E esses assuntos não são na verdade temas sobre a complexa ciência do que está acontecendo, mas de coisas que são bem conhecidas. E vou começar com essa. Se a mamãe não está feliz, ninguém está feliz. Sabemos disso, certo? Passamos por isso. E se pegarmos isso e construirmos a partir disso, então podemos ir ao próximo passo, que é se o oceano não está feliz, ninguém está feliz. Esse é o tópico da minha palestra. E estamos deixando o oceano muito infeliz de diversas maneiras. Essa é uma foto de Cannery Row em 1932. Cannery Row, nessa época, tinha a maior indústria de enlatados da costa oeste. Nós liberamos enormes quantidades de poluição no ar e na água. Rolf Bolin, que era um professor universitário na Hopkin's Marine Station, onde trabalho, escreveu na década de 40 que, "Os gases da espuma que flutuava na enseada da baía eram tão ruins que encardiram tintas á base de chumbo de preto." Trabalhadores dessa indústria dificilmente ficavam ali o dia todo por causa do cheiro. Mas sabem o que eles diziam? Eles diziam, "Sabe o que você respira? Você respira dinheiro." A poluição era renda para a comunidade. E essas pessoas lidaram com a poluição e a absorveram na pele e em seus corpos porque precisavam do dinheiro. Deixamos o oceano infeliz; deixamos pessoas muito infelizes, e as deixamos enfermas. A ligação entre a saúde do oceano e a saúde humana é na verdade baseada em alguns poucos e simples provérbios. E quero chamá-la de "belisque um peixinho, machuque uma baleia." A pirâmide da vida no oceano. Agora, quando um ecologista olha para oceano, tenho de lhes dizer, olhamos para o oceano de uma maneira muito diferente, e vemos coisas distintas das que uma pessoa normal vê nele. Porque quando um ecologista olha para o oceano, vemos todas essas interconexões. Vemos a base da cadeia alimentar, os plânctons, as coisas pequenas, e vemos como esses animais são comida para os animais do meio da pirâmide, e assim por diante no diagrama. E esse fluxo, esse fluxo de vida, desde a base até o topo, é o fluxo que os ecologistas vêem. E isso é o que estamos tentando preservar quando dizemos, "Salve o oceano. Cure-o." É essa pirâmide. Agora por que isso importa para a saúde humana? Porque quando introduzimos algo na base da pirâmide que não devia estar lá, coisas muito assustadoras acontecem. Poluentes, alguns criados por nós, moléculas como os PCBs que não podem ser desfeitos em nosso organismo. E eles vão para a base dessa pirâmide, e eles flutuam, vão sendo transmitidos, para predadores e vão para o topo da pirâmide. E assim, eles acumulam. Agora pra se familiarizar com isso, eu inventei um jogo. Nós não precisamos jogá-lo. Podemos apenas pensar sobre ele. É o jogo do isopor e do chocolate. Imagine que quando chegamos a esse barco, nós recebemos dois flocos de isopor. Não se pode fazer muito com eles a não ser guardar no bolso. Porque as regras são: toda vez que você oferece uma bebida a alguém, você dá a bebida a ela, e lhe dá um floco de isopor também. O que acontecerá é que os flocos de isopor vão se espalhar por essa sociedade. E vão acumular nas pessoas mais bêbadas e pão-duras. Não tem mecanismo nesse jogo para eles irem em algum lugar senão um maior e maior monte de indigestos flocos de isopor. E é exatamente isso que acontece com os PCBs nessa pirâmide alimentar. Eles acumulam no topo dela. Agora suponha que ao invés de isopor, nós pegássemos esses bonitos pequenos chocolates que ganhamos e os tivéssemos. Bem, alguns de nós os comeriam ao invés de dá-los a outros. E ao invés de acumulá-los, eles apenas ficariam em nosso grupo e não em outros. Porque eles são absorvidos por nós. E essa é a diferença entre o PCB e, vamos ver, algo natural como o omega-3, algo que queremos obter da cadeia alimentar marinha. PCBs acumulam. Temos ótimos exemplos disso, infelizmente. PCBs acumulam em golfinhos na Baía de Sarasota, no Texas, na Carolina do Norte. Eles entram na cadeia alimentar. Os golfinhos comem peixes que tem PCBs obtidos dos plânctons, e esses PCBs, sendo solúveis na gordura, acumulam nesses golfinhos. Agora, um golfinho, golfinho mãe, qualquer um -- só há uma maneira de o PCB ser expelido de seu organismo. E qual é? No leite materno. Aqui está um gráfico da quantidade de PCB em golfinhos na baía de Sarasota. Machos adultos, uma enorme quantidade. Jovens, uma enorme quantidade. Fêmeas após ter seu primeiro filhote desmamado, uma quantidade menor. Essas fêmeas, elas não estão tentando. Essas fêmeas estão transmitindo os PCBs na gordura do seus próprios leites para sua cria. E sua cria não sobrevive. A taxa de mortalidade nesses golfinhos, para o primeiro filhote de cada golfinho fêmea, é de 60 a 80 por cento. Essas mães bombeiam sua primeira cria cheia desse poluente. E a maioria morre. Agora, a mãe pode reproduzir normalmente, mas que terrível preço a se pagar pelo acúmulo desse poluente nesses animais -- a morte do primeiro filhote. Há outro grande predador no oceano, parece. Esse predador, é claro, somos nós. E também estamos comendo carne que vem de alguns desses mesmos lugares. Essa é a carne de baleia que eu fotografei em um supermercado em Tokyo -- ou não é? De fato, o que fizemos alguns anos atrás foi aprender como manipular um laboratório de biologia molecular em Tokyo e usá-lo para testar genéticamente o DNA de amostras de carne de baleia e identificar quais realmente eram. E algumas dessas amostras realmente eram carne de baleia. Algumas delas eram carnes ilegais, falando nisso. Essa é outra história. Mas algumas delas não eram de baleia. Apesar de estarem rotuladas como tal, eram de golfinho. Algumas delas eram fígado de golfinho. Algumas eram banha de golfinho. E essas partes de golfinhos tinham enorme quantidade de PCBs, dioxinas e metais pesados. E essa enorme quantidade estava sendo transmitida a pessoas que comiam essa carne. Acontece que muitos golfinhos estão sendo vendidos como carne no mercado de carne de baleia ao redor do mundo. É uma tragédia para essas populações. Mas também é uma tragédia para quem as está comendo porque eles não sabem que essa carne é tóxica. Tínhamos essas informações alguns anos atrás. Me lembro de sentar à minha mesa sendo a única pessoa no mundo que sabia que carne de baleia estava sendo vendida nesses mercados na verdade era de golfinho, e era tóxica. Tinha duas a três a 400 vezes a quantidade de toxinas permitidas pela EPA. E eu lembro de sentar à minha mesa pensando, "Bem, eu sei disso. É uma grande descoberta científica." Mas era tão terrível. E pela primeira vez na minha carreira científica eu quebrei o protocolo, que é pegar os dados e publicá-los em periódicos científicos, e então falar sobre eles. Mandamos uma carta educadíssima para o ministro da saúde no Japão e apenas apontamos que essa é uma situação intolerável, não para nós, mas para as pessoas no Japão. Porque mães que podem estar amamentando, que podem ter crianças pequenas, estariam comprando algo que pensam ser saudável, mas na verdade é tóxico. Isso levou a uma série de outras campanhas no Japão. E tenho orgulho de dizer que agora é muito difícil comprar algo no Japão que está rotulado errôneamente, apesar deles ainda venderem carne de baleia, o que acredito que eles não deveriam. Mas pelo menos ela está rotulada corretamente, e você não mais comprará carne de golfinho tóxica. Não é apenas lá que isso acontece, mas na dieta natural de algumas comunidades no ártico Canadense, nos Estados Unidos e no ártico Europeu, uma dieta natural de focas e baleias leva a uma acumulação de PCBs que foram reunidos de todos os cantos do mundo e acabaram nessas mulheres. Essas mulheres tem leite tóxico. Elas não podem amamentar sua prole, suas crianças, o leite de seu peito por causa do acúmulo dessas toxinas em sua cadeia alimentar, na sua parte da pirâmide oceânica mundial. Isso significa que o sistema imunológico delas está comprometido. Isso quer dizer que o desenvolvimento de suas crianças pode estar comprometido. E a atenção mundial nisso na última década têm reduzido o problema para essas mulheres, não por mudar a pirâmide, mas por mudar o que elas comem de cada animal. As tiramos de sua pirâmide natural para resolver esse problema. Isso é algo bom para esse problema em particular, mas não adianta nada resolver o problema da pirâmide. Há outras maneiras de quebrar essa pirâmide. A pirâmide, se introduzirmos coisas em sua base, pode voltar como em um esgoto entupido. E se introduzirmos nutrientes, esgoto, fertilizantes na base dessa pirâmide, eles podem voltar em toda sua extensão. E terminaremos com coisas que já ouvimos antes: marés vermelhas, por exemplo, que são o crescimento de algas tóxicas flutuando pelos oceanos causando danos neurológicos. Também podemos ter o crescimento de bacterias, crescimento de vírus no oceano. Essas são duas fotos de uma maré vermelha invadindo a costa e uma bactéria no gênero vibrião, que inclui o gênero que tem cólera. Quantas pessoas viram uma placa de "praia interditada"? Por que isso acontece? Acontece porque introduzimos tantas coisas na base dessa pirâmide natural oceânica que essas bactérias se entupiram e encheram as nossas praias. Frequentemente o que nos enche é o esgoto. Agora quantos de vocês já foram a um parque estadual ou nacional onde havia uma grande placa na frente dizendo, "Fechado porque o esgoto humano está tão espalhado pelo parque que não se pode usá-lo"? Não com frequência. Não toleraríamos isso. Não toleraríamos nossos parques sendo entupidos de esgoto. Mas muitas praias estão fechadas em nosso país. Elas estão fechadas mais e mais ao redor do mundo pelo mesmo motivo. E acredito que não devíamos tolerar isso também. Não é apenas uma questão de higiene. É também uma questão de como esses organismos se transformam em doenças. Esses vibriões, essas bactérias, podem na verdade infectar pessoas. Elas podem penetrar na sua pela e criar infecções. Esse é um gráfico da iniciativa de saúde oceânica e humana do NOAA, mostrando o crescimento de infecções por vibriões nas pessoas nos últimos anos. Surfistas, por exemplo, inacreditavelmente sabem disso. E se você puder ver alguns sites de surf, de fato, você não apenas vê como são as ondas ou o clima, mas nos sites de alguns surfistas você vê um pequeno alerta de excrementos. Isso significa que essa praia pode ter ótimas ondas, mas é um lugar perigoso para surfistas porque eles podem pegar, mesmo depois de uma ótima surfada, esse legado de uma infecção que pode levar muito tempo para curar. Algumas dessas infecções são na verdade resistentes à antibióticos. E isso as faz ainda mais difíceis de combater. Essas mesmas infecções criam crescimentos de algas nocivas. Esses crescimentos geram outros tipos de agentes químicos. Essa é apenas uma simples lista de alguns tipos de venenos que surgem do crescimento dessas algas nocivas: envenenamento por molusco, ciguatera, envenenamento diarréico por molusco -- vocês vão querer saber disso -- envenenamento neurotóxico e envenenamento paralítico por moluscos. Essas são coisas que estão na nossa cadeia alimentar por causa desses crescimentos exagerados. Rita Calwell traçou muito famosamente uma história interessantíssima de cólera em comunidades humanas, levada lá, não por um vetor humano normal, mas por um vetor marinho, esse copépode. Copépodes são pequenos crustáceos. Eles medem uma minúscula fração de um centímetro. E podem levar nas suas pequenas patas algumas das bactérias da cólera que então leva a doença humana. Isso acendeu a epidemia de cólera em portos ao redor do mundo e levou a uma preocupação crescente para tentar ter certeza de que o correio não levasse esses vetores de cólera pelo mundo. Então o que fazer? Temos grandes problemas em ecossistemas com fluxo interrompido que a pirâmide pode não estar funcionando bem, que o fluxo da base até o topo está sendo bloqueado e entupido. O que você faz quando tem esse tipo de fluxo interrompido? Bem, tem algumas coisas que podem ser feitas. Você pode chamar o Encanador Joe, por exemplo. E ele pode vir e consertar o fluxo. Mas de fato, se você olhar pelo mundo, existem não só lugares em que ainda há esperança onde podemos ser capazes de consertar esse problema, mas há lugares onde isso já foi consertado, onde pessoas agarraram essas questões e começaram a transformá-las. Monterey é um desses lugares. Comecei mostrando quanto tínhamos afligido o ecossistema da baía de Monterey com poluição e a indústria de enlatados e todos os problemas relacionados. Em 1932 essa é a foto. Em 2009 a foto é notavelmente diferente. As indústrias se foram. A poluição foi controlada. Mas há um sentido maior aqui sobre o que as comunidades precisam são ecossistemas que funcionam. Elas precisam de uma pirâmide funcional da base ao topo. E essa pirâmide em Monterey, agora, por causa do esforço de muitas pessoas, está funcionando melhor do que nunca nos últimos 150 anos. Isso não aconteceu por acaso. Aconteceu porque muitas pessoas investiram seu tempo e esforço e seu espírito pioneiro nisso. A esquerda, Julia Platt, a prefeita da minha cidade natal em Pacific Grove. Aos 74 anos, se tornou prefeita porque algo tinha de ser feito para proteger o oceano. Em 1931, ela produziu a primeira área marinha da califórnia protegida pela comunidade, bem próxima a indústria que mais poluía porque Julia sabia que quando as fábricas se fossem, o oceano precisava de um lugar para crescer, que o oceano precisava de um lugar para plantar uma semente. E ela queria fornecer essa semente. Outras pessoas, David Packard e Julie Packard, que foram fundamentais na produção do aquário da baía de Monterey para fixar na mente das pessoas que o oceano e a saúde de seu ecossistema eram tão importantes para a economia dali quanto comer. Essa mudança de pensamento levou a uma mudança drástica, não só nas fortunas da baía de Monterey, quanto em outros lugares pelo mundo. Bem, quero deixá-los com um pensamento que, o que estamos mesmo querendo fazer aqui é proteger a pirâmide oceânica. E essa pirâmide se conecta a nossa própria pirâmide da vida. É um planeta oceânico, e nos imaginamos como espécies terrestres. Mas a pirâmide da vida no oceano e nossas vidas na terra estão fortemente ligadas. E é apenas através de um oceano saudável que podemos permanecer saudáveis. Muito obrigado.
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E juntá-los pode parecer uma tarefa intimidadora.
[ "e", "juntá", "los", "pode", "parecer", "uma", "tarefa", "intimidadora" ]
[ "O", "O", "O", "O", "O", "O", "O", "I-PERIOD" ]
Pode ser algo bem complicado, o oceano. E pode ser algo bem complicado, o que é a saúde humana. E juntá-los pode parecer uma tarefa intimidadora. Mas o que vou tentar dizer é que mesmo nessa complexidade, há alguns assuntos simples que creio que, se entendermos, podemos avançar. E esses assuntos não são na verdade temas sobre a complexa ciência do que está acontecendo, mas de coisas que são bem conhecidas. E vou começar com essa. Se a mamãe não está feliz, ninguém está feliz. Sabemos disso, certo? Passamos por isso. E se pegarmos isso e construirmos a partir disso, então podemos ir ao próximo passo, que é se o oceano não está feliz, ninguém está feliz. Esse é o tópico da minha palestra. E estamos deixando o oceano muito infeliz de diversas maneiras. Essa é uma foto de Cannery Row em 1932. Cannery Row, nessa época, tinha a maior indústria de enlatados da costa oeste. Nós liberamos enormes quantidades de poluição no ar e na água. Rolf Bolin, que era um professor universitário na Hopkin's Marine Station, onde trabalho, escreveu na década de 40 que, "Os gases da espuma que flutuava na enseada da baía eram tão ruins que encardiram tintas á base de chumbo de preto." Trabalhadores dessa indústria dificilmente ficavam ali o dia todo por causa do cheiro. Mas sabem o que eles diziam? Eles diziam, "Sabe o que você respira? Você respira dinheiro." A poluição era renda para a comunidade. E essas pessoas lidaram com a poluição e a absorveram na pele e em seus corpos porque precisavam do dinheiro. Deixamos o oceano infeliz; deixamos pessoas muito infelizes, e as deixamos enfermas. A ligação entre a saúde do oceano e a saúde humana é na verdade baseada em alguns poucos e simples provérbios. E quero chamá-la de "belisque um peixinho, machuque uma baleia." A pirâmide da vida no oceano. Agora, quando um ecologista olha para oceano, tenho de lhes dizer, olhamos para o oceano de uma maneira muito diferente, e vemos coisas distintas das que uma pessoa normal vê nele. Porque quando um ecologista olha para o oceano, vemos todas essas interconexões. Vemos a base da cadeia alimentar, os plânctons, as coisas pequenas, e vemos como esses animais são comida para os animais do meio da pirâmide, e assim por diante no diagrama. E esse fluxo, esse fluxo de vida, desde a base até o topo, é o fluxo que os ecologistas vêem. E isso é o que estamos tentando preservar quando dizemos, "Salve o oceano. Cure-o." É essa pirâmide. Agora por que isso importa para a saúde humana? Porque quando introduzimos algo na base da pirâmide que não devia estar lá, coisas muito assustadoras acontecem. Poluentes, alguns criados por nós, moléculas como os PCBs que não podem ser desfeitos em nosso organismo. E eles vão para a base dessa pirâmide, e eles flutuam, vão sendo transmitidos, para predadores e vão para o topo da pirâmide. E assim, eles acumulam. Agora pra se familiarizar com isso, eu inventei um jogo. Nós não precisamos jogá-lo. Podemos apenas pensar sobre ele. É o jogo do isopor e do chocolate. Imagine que quando chegamos a esse barco, nós recebemos dois flocos de isopor. Não se pode fazer muito com eles a não ser guardar no bolso. Porque as regras são: toda vez que você oferece uma bebida a alguém, você dá a bebida a ela, e lhe dá um floco de isopor também. O que acontecerá é que os flocos de isopor vão se espalhar por essa sociedade. E vão acumular nas pessoas mais bêbadas e pão-duras. Não tem mecanismo nesse jogo para eles irem em algum lugar senão um maior e maior monte de indigestos flocos de isopor. E é exatamente isso que acontece com os PCBs nessa pirâmide alimentar. Eles acumulam no topo dela. Agora suponha que ao invés de isopor, nós pegássemos esses bonitos pequenos chocolates que ganhamos e os tivéssemos. Bem, alguns de nós os comeriam ao invés de dá-los a outros. E ao invés de acumulá-los, eles apenas ficariam em nosso grupo e não em outros. Porque eles são absorvidos por nós. E essa é a diferença entre o PCB e, vamos ver, algo natural como o omega-3, algo que queremos obter da cadeia alimentar marinha. PCBs acumulam. Temos ótimos exemplos disso, infelizmente. PCBs acumulam em golfinhos na Baía de Sarasota, no Texas, na Carolina do Norte. Eles entram na cadeia alimentar. Os golfinhos comem peixes que tem PCBs obtidos dos plânctons, e esses PCBs, sendo solúveis na gordura, acumulam nesses golfinhos. Agora, um golfinho, golfinho mãe, qualquer um -- só há uma maneira de o PCB ser expelido de seu organismo. E qual é? No leite materno. Aqui está um gráfico da quantidade de PCB em golfinhos na baía de Sarasota. Machos adultos, uma enorme quantidade. Jovens, uma enorme quantidade. Fêmeas após ter seu primeiro filhote desmamado, uma quantidade menor. Essas fêmeas, elas não estão tentando. Essas fêmeas estão transmitindo os PCBs na gordura do seus próprios leites para sua cria. E sua cria não sobrevive. A taxa de mortalidade nesses golfinhos, para o primeiro filhote de cada golfinho fêmea, é de 60 a 80 por cento. Essas mães bombeiam sua primeira cria cheia desse poluente. E a maioria morre. Agora, a mãe pode reproduzir normalmente, mas que terrível preço a se pagar pelo acúmulo desse poluente nesses animais -- a morte do primeiro filhote. Há outro grande predador no oceano, parece. Esse predador, é claro, somos nós. E também estamos comendo carne que vem de alguns desses mesmos lugares. Essa é a carne de baleia que eu fotografei em um supermercado em Tokyo -- ou não é? De fato, o que fizemos alguns anos atrás foi aprender como manipular um laboratório de biologia molecular em Tokyo e usá-lo para testar genéticamente o DNA de amostras de carne de baleia e identificar quais realmente eram. E algumas dessas amostras realmente eram carne de baleia. Algumas delas eram carnes ilegais, falando nisso. Essa é outra história. Mas algumas delas não eram de baleia. Apesar de estarem rotuladas como tal, eram de golfinho. Algumas delas eram fígado de golfinho. Algumas eram banha de golfinho. E essas partes de golfinhos tinham enorme quantidade de PCBs, dioxinas e metais pesados. E essa enorme quantidade estava sendo transmitida a pessoas que comiam essa carne. Acontece que muitos golfinhos estão sendo vendidos como carne no mercado de carne de baleia ao redor do mundo. É uma tragédia para essas populações. Mas também é uma tragédia para quem as está comendo porque eles não sabem que essa carne é tóxica. Tínhamos essas informações alguns anos atrás. Me lembro de sentar à minha mesa sendo a única pessoa no mundo que sabia que carne de baleia estava sendo vendida nesses mercados na verdade era de golfinho, e era tóxica. Tinha duas a três a 400 vezes a quantidade de toxinas permitidas pela EPA. E eu lembro de sentar à minha mesa pensando, "Bem, eu sei disso. É uma grande descoberta científica." Mas era tão terrível. E pela primeira vez na minha carreira científica eu quebrei o protocolo, que é pegar os dados e publicá-los em periódicos científicos, e então falar sobre eles. Mandamos uma carta educadíssima para o ministro da saúde no Japão e apenas apontamos que essa é uma situação intolerável, não para nós, mas para as pessoas no Japão. Porque mães que podem estar amamentando, que podem ter crianças pequenas, estariam comprando algo que pensam ser saudável, mas na verdade é tóxico. Isso levou a uma série de outras campanhas no Japão. E tenho orgulho de dizer que agora é muito difícil comprar algo no Japão que está rotulado errôneamente, apesar deles ainda venderem carne de baleia, o que acredito que eles não deveriam. Mas pelo menos ela está rotulada corretamente, e você não mais comprará carne de golfinho tóxica. Não é apenas lá que isso acontece, mas na dieta natural de algumas comunidades no ártico Canadense, nos Estados Unidos e no ártico Europeu, uma dieta natural de focas e baleias leva a uma acumulação de PCBs que foram reunidos de todos os cantos do mundo e acabaram nessas mulheres. Essas mulheres tem leite tóxico. Elas não podem amamentar sua prole, suas crianças, o leite de seu peito por causa do acúmulo dessas toxinas em sua cadeia alimentar, na sua parte da pirâmide oceânica mundial. Isso significa que o sistema imunológico delas está comprometido. Isso quer dizer que o desenvolvimento de suas crianças pode estar comprometido. E a atenção mundial nisso na última década têm reduzido o problema para essas mulheres, não por mudar a pirâmide, mas por mudar o que elas comem de cada animal. As tiramos de sua pirâmide natural para resolver esse problema. Isso é algo bom para esse problema em particular, mas não adianta nada resolver o problema da pirâmide. Há outras maneiras de quebrar essa pirâmide. A pirâmide, se introduzirmos coisas em sua base, pode voltar como em um esgoto entupido. E se introduzirmos nutrientes, esgoto, fertilizantes na base dessa pirâmide, eles podem voltar em toda sua extensão. E terminaremos com coisas que já ouvimos antes: marés vermelhas, por exemplo, que são o crescimento de algas tóxicas flutuando pelos oceanos causando danos neurológicos. Também podemos ter o crescimento de bacterias, crescimento de vírus no oceano. Essas são duas fotos de uma maré vermelha invadindo a costa e uma bactéria no gênero vibrião, que inclui o gênero que tem cólera. Quantas pessoas viram uma placa de "praia interditada"? Por que isso acontece? Acontece porque introduzimos tantas coisas na base dessa pirâmide natural oceânica que essas bactérias se entupiram e encheram as nossas praias. Frequentemente o que nos enche é o esgoto. Agora quantos de vocês já foram a um parque estadual ou nacional onde havia uma grande placa na frente dizendo, "Fechado porque o esgoto humano está tão espalhado pelo parque que não se pode usá-lo"? Não com frequência. Não toleraríamos isso. Não toleraríamos nossos parques sendo entupidos de esgoto. Mas muitas praias estão fechadas em nosso país. Elas estão fechadas mais e mais ao redor do mundo pelo mesmo motivo. E acredito que não devíamos tolerar isso também. Não é apenas uma questão de higiene. É também uma questão de como esses organismos se transformam em doenças. Esses vibriões, essas bactérias, podem na verdade infectar pessoas. Elas podem penetrar na sua pela e criar infecções. Esse é um gráfico da iniciativa de saúde oceânica e humana do NOAA, mostrando o crescimento de infecções por vibriões nas pessoas nos últimos anos. Surfistas, por exemplo, inacreditavelmente sabem disso. E se você puder ver alguns sites de surf, de fato, você não apenas vê como são as ondas ou o clima, mas nos sites de alguns surfistas você vê um pequeno alerta de excrementos. Isso significa que essa praia pode ter ótimas ondas, mas é um lugar perigoso para surfistas porque eles podem pegar, mesmo depois de uma ótima surfada, esse legado de uma infecção que pode levar muito tempo para curar. Algumas dessas infecções são na verdade resistentes à antibióticos. E isso as faz ainda mais difíceis de combater. Essas mesmas infecções criam crescimentos de algas nocivas. Esses crescimentos geram outros tipos de agentes químicos. Essa é apenas uma simples lista de alguns tipos de venenos que surgem do crescimento dessas algas nocivas: envenenamento por molusco, ciguatera, envenenamento diarréico por molusco -- vocês vão querer saber disso -- envenenamento neurotóxico e envenenamento paralítico por moluscos. Essas são coisas que estão na nossa cadeia alimentar por causa desses crescimentos exagerados. Rita Calwell traçou muito famosamente uma história interessantíssima de cólera em comunidades humanas, levada lá, não por um vetor humano normal, mas por um vetor marinho, esse copépode. Copépodes são pequenos crustáceos. Eles medem uma minúscula fração de um centímetro. E podem levar nas suas pequenas patas algumas das bactérias da cólera que então leva a doença humana. Isso acendeu a epidemia de cólera em portos ao redor do mundo e levou a uma preocupação crescente para tentar ter certeza de que o correio não levasse esses vetores de cólera pelo mundo. Então o que fazer? Temos grandes problemas em ecossistemas com fluxo interrompido que a pirâmide pode não estar funcionando bem, que o fluxo da base até o topo está sendo bloqueado e entupido. O que você faz quando tem esse tipo de fluxo interrompido? Bem, tem algumas coisas que podem ser feitas. Você pode chamar o Encanador Joe, por exemplo. E ele pode vir e consertar o fluxo. Mas de fato, se você olhar pelo mundo, existem não só lugares em que ainda há esperança onde podemos ser capazes de consertar esse problema, mas há lugares onde isso já foi consertado, onde pessoas agarraram essas questões e começaram a transformá-las. Monterey é um desses lugares. Comecei mostrando quanto tínhamos afligido o ecossistema da baía de Monterey com poluição e a indústria de enlatados e todos os problemas relacionados. Em 1932 essa é a foto. Em 2009 a foto é notavelmente diferente. As indústrias se foram. A poluição foi controlada. Mas há um sentido maior aqui sobre o que as comunidades precisam são ecossistemas que funcionam. Elas precisam de uma pirâmide funcional da base ao topo. E essa pirâmide em Monterey, agora, por causa do esforço de muitas pessoas, está funcionando melhor do que nunca nos últimos 150 anos. Isso não aconteceu por acaso. Aconteceu porque muitas pessoas investiram seu tempo e esforço e seu espírito pioneiro nisso. A esquerda, Julia Platt, a prefeita da minha cidade natal em Pacific Grove. Aos 74 anos, se tornou prefeita porque algo tinha de ser feito para proteger o oceano. Em 1931, ela produziu a primeira área marinha da califórnia protegida pela comunidade, bem próxima a indústria que mais poluía porque Julia sabia que quando as fábricas se fossem, o oceano precisava de um lugar para crescer, que o oceano precisava de um lugar para plantar uma semente. E ela queria fornecer essa semente. Outras pessoas, David Packard e Julie Packard, que foram fundamentais na produção do aquário da baía de Monterey para fixar na mente das pessoas que o oceano e a saúde de seu ecossistema eram tão importantes para a economia dali quanto comer. Essa mudança de pensamento levou a uma mudança drástica, não só nas fortunas da baía de Monterey, quanto em outros lugares pelo mundo. Bem, quero deixá-los com um pensamento que, o que estamos mesmo querendo fazer aqui é proteger a pirâmide oceânica. E essa pirâmide se conecta a nossa própria pirâmide da vida. É um planeta oceânico, e nos imaginamos como espécies terrestres. Mas a pirâmide da vida no oceano e nossas vidas na terra estão fortemente ligadas. E é apenas através de um oceano saudável que podemos permanecer saudáveis. Muito obrigado.
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Mas o que vou tentar dizer é que mesmo nessa complexidade, há alguns assuntos simples que creio que, se entendermos, podemos avançar.
[ "mas", "o", "que", "vou", "tentar", "dizer", "é", "que", "mesmo", "nessa", "complexidade", "há", "alguns", "assuntos", "simples", "que", "creio", "que", "se", "entendermos", "podemos", "avançar" ]
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Pode ser algo bem complicado, o oceano. E pode ser algo bem complicado, o que é a saúde humana. E juntá-los pode parecer uma tarefa intimidadora. Mas o que vou tentar dizer é que mesmo nessa complexidade, há alguns assuntos simples que creio que, se entendermos, podemos avançar. E esses assuntos não são na verdade temas sobre a complexa ciência do que está acontecendo, mas de coisas que são bem conhecidas. E vou começar com essa. Se a mamãe não está feliz, ninguém está feliz. Sabemos disso, certo? Passamos por isso. E se pegarmos isso e construirmos a partir disso, então podemos ir ao próximo passo, que é se o oceano não está feliz, ninguém está feliz. Esse é o tópico da minha palestra. E estamos deixando o oceano muito infeliz de diversas maneiras. Essa é uma foto de Cannery Row em 1932. Cannery Row, nessa época, tinha a maior indústria de enlatados da costa oeste. Nós liberamos enormes quantidades de poluição no ar e na água. Rolf Bolin, que era um professor universitário na Hopkin's Marine Station, onde trabalho, escreveu na década de 40 que, "Os gases da espuma que flutuava na enseada da baía eram tão ruins que encardiram tintas á base de chumbo de preto." Trabalhadores dessa indústria dificilmente ficavam ali o dia todo por causa do cheiro. Mas sabem o que eles diziam? Eles diziam, "Sabe o que você respira? Você respira dinheiro." A poluição era renda para a comunidade. E essas pessoas lidaram com a poluição e a absorveram na pele e em seus corpos porque precisavam do dinheiro. Deixamos o oceano infeliz; deixamos pessoas muito infelizes, e as deixamos enfermas. A ligação entre a saúde do oceano e a saúde humana é na verdade baseada em alguns poucos e simples provérbios. E quero chamá-la de "belisque um peixinho, machuque uma baleia." A pirâmide da vida no oceano. Agora, quando um ecologista olha para oceano, tenho de lhes dizer, olhamos para o oceano de uma maneira muito diferente, e vemos coisas distintas das que uma pessoa normal vê nele. Porque quando um ecologista olha para o oceano, vemos todas essas interconexões. Vemos a base da cadeia alimentar, os plânctons, as coisas pequenas, e vemos como esses animais são comida para os animais do meio da pirâmide, e assim por diante no diagrama. E esse fluxo, esse fluxo de vida, desde a base até o topo, é o fluxo que os ecologistas vêem. E isso é o que estamos tentando preservar quando dizemos, "Salve o oceano. Cure-o." É essa pirâmide. Agora por que isso importa para a saúde humana? Porque quando introduzimos algo na base da pirâmide que não devia estar lá, coisas muito assustadoras acontecem. Poluentes, alguns criados por nós, moléculas como os PCBs que não podem ser desfeitos em nosso organismo. E eles vão para a base dessa pirâmide, e eles flutuam, vão sendo transmitidos, para predadores e vão para o topo da pirâmide. E assim, eles acumulam. Agora pra se familiarizar com isso, eu inventei um jogo. Nós não precisamos jogá-lo. Podemos apenas pensar sobre ele. É o jogo do isopor e do chocolate. Imagine que quando chegamos a esse barco, nós recebemos dois flocos de isopor. Não se pode fazer muito com eles a não ser guardar no bolso. Porque as regras são: toda vez que você oferece uma bebida a alguém, você dá a bebida a ela, e lhe dá um floco de isopor também. O que acontecerá é que os flocos de isopor vão se espalhar por essa sociedade. E vão acumular nas pessoas mais bêbadas e pão-duras. Não tem mecanismo nesse jogo para eles irem em algum lugar senão um maior e maior monte de indigestos flocos de isopor. E é exatamente isso que acontece com os PCBs nessa pirâmide alimentar. Eles acumulam no topo dela. Agora suponha que ao invés de isopor, nós pegássemos esses bonitos pequenos chocolates que ganhamos e os tivéssemos. Bem, alguns de nós os comeriam ao invés de dá-los a outros. E ao invés de acumulá-los, eles apenas ficariam em nosso grupo e não em outros. Porque eles são absorvidos por nós. E essa é a diferença entre o PCB e, vamos ver, algo natural como o omega-3, algo que queremos obter da cadeia alimentar marinha. PCBs acumulam. Temos ótimos exemplos disso, infelizmente. PCBs acumulam em golfinhos na Baía de Sarasota, no Texas, na Carolina do Norte. Eles entram na cadeia alimentar. Os golfinhos comem peixes que tem PCBs obtidos dos plânctons, e esses PCBs, sendo solúveis na gordura, acumulam nesses golfinhos. Agora, um golfinho, golfinho mãe, qualquer um -- só há uma maneira de o PCB ser expelido de seu organismo. E qual é? No leite materno. Aqui está um gráfico da quantidade de PCB em golfinhos na baía de Sarasota. Machos adultos, uma enorme quantidade. Jovens, uma enorme quantidade. Fêmeas após ter seu primeiro filhote desmamado, uma quantidade menor. Essas fêmeas, elas não estão tentando. Essas fêmeas estão transmitindo os PCBs na gordura do seus próprios leites para sua cria. E sua cria não sobrevive. A taxa de mortalidade nesses golfinhos, para o primeiro filhote de cada golfinho fêmea, é de 60 a 80 por cento. Essas mães bombeiam sua primeira cria cheia desse poluente. E a maioria morre. Agora, a mãe pode reproduzir normalmente, mas que terrível preço a se pagar pelo acúmulo desse poluente nesses animais -- a morte do primeiro filhote. Há outro grande predador no oceano, parece. Esse predador, é claro, somos nós. E também estamos comendo carne que vem de alguns desses mesmos lugares. Essa é a carne de baleia que eu fotografei em um supermercado em Tokyo -- ou não é? De fato, o que fizemos alguns anos atrás foi aprender como manipular um laboratório de biologia molecular em Tokyo e usá-lo para testar genéticamente o DNA de amostras de carne de baleia e identificar quais realmente eram. E algumas dessas amostras realmente eram carne de baleia. Algumas delas eram carnes ilegais, falando nisso. Essa é outra história. Mas algumas delas não eram de baleia. Apesar de estarem rotuladas como tal, eram de golfinho. Algumas delas eram fígado de golfinho. Algumas eram banha de golfinho. E essas partes de golfinhos tinham enorme quantidade de PCBs, dioxinas e metais pesados. E essa enorme quantidade estava sendo transmitida a pessoas que comiam essa carne. Acontece que muitos golfinhos estão sendo vendidos como carne no mercado de carne de baleia ao redor do mundo. É uma tragédia para essas populações. Mas também é uma tragédia para quem as está comendo porque eles não sabem que essa carne é tóxica. Tínhamos essas informações alguns anos atrás. Me lembro de sentar à minha mesa sendo a única pessoa no mundo que sabia que carne de baleia estava sendo vendida nesses mercados na verdade era de golfinho, e era tóxica. Tinha duas a três a 400 vezes a quantidade de toxinas permitidas pela EPA. E eu lembro de sentar à minha mesa pensando, "Bem, eu sei disso. É uma grande descoberta científica." Mas era tão terrível. E pela primeira vez na minha carreira científica eu quebrei o protocolo, que é pegar os dados e publicá-los em periódicos científicos, e então falar sobre eles. Mandamos uma carta educadíssima para o ministro da saúde no Japão e apenas apontamos que essa é uma situação intolerável, não para nós, mas para as pessoas no Japão. Porque mães que podem estar amamentando, que podem ter crianças pequenas, estariam comprando algo que pensam ser saudável, mas na verdade é tóxico. Isso levou a uma série de outras campanhas no Japão. E tenho orgulho de dizer que agora é muito difícil comprar algo no Japão que está rotulado errôneamente, apesar deles ainda venderem carne de baleia, o que acredito que eles não deveriam. Mas pelo menos ela está rotulada corretamente, e você não mais comprará carne de golfinho tóxica. Não é apenas lá que isso acontece, mas na dieta natural de algumas comunidades no ártico Canadense, nos Estados Unidos e no ártico Europeu, uma dieta natural de focas e baleias leva a uma acumulação de PCBs que foram reunidos de todos os cantos do mundo e acabaram nessas mulheres. Essas mulheres tem leite tóxico. Elas não podem amamentar sua prole, suas crianças, o leite de seu peito por causa do acúmulo dessas toxinas em sua cadeia alimentar, na sua parte da pirâmide oceânica mundial. Isso significa que o sistema imunológico delas está comprometido. Isso quer dizer que o desenvolvimento de suas crianças pode estar comprometido. E a atenção mundial nisso na última década têm reduzido o problema para essas mulheres, não por mudar a pirâmide, mas por mudar o que elas comem de cada animal. As tiramos de sua pirâmide natural para resolver esse problema. Isso é algo bom para esse problema em particular, mas não adianta nada resolver o problema da pirâmide. Há outras maneiras de quebrar essa pirâmide. A pirâmide, se introduzirmos coisas em sua base, pode voltar como em um esgoto entupido. E se introduzirmos nutrientes, esgoto, fertilizantes na base dessa pirâmide, eles podem voltar em toda sua extensão. E terminaremos com coisas que já ouvimos antes: marés vermelhas, por exemplo, que são o crescimento de algas tóxicas flutuando pelos oceanos causando danos neurológicos. Também podemos ter o crescimento de bacterias, crescimento de vírus no oceano. Essas são duas fotos de uma maré vermelha invadindo a costa e uma bactéria no gênero vibrião, que inclui o gênero que tem cólera. Quantas pessoas viram uma placa de "praia interditada"? Por que isso acontece? Acontece porque introduzimos tantas coisas na base dessa pirâmide natural oceânica que essas bactérias se entupiram e encheram as nossas praias. Frequentemente o que nos enche é o esgoto. Agora quantos de vocês já foram a um parque estadual ou nacional onde havia uma grande placa na frente dizendo, "Fechado porque o esgoto humano está tão espalhado pelo parque que não se pode usá-lo"? Não com frequência. Não toleraríamos isso. Não toleraríamos nossos parques sendo entupidos de esgoto. Mas muitas praias estão fechadas em nosso país. Elas estão fechadas mais e mais ao redor do mundo pelo mesmo motivo. E acredito que não devíamos tolerar isso também. Não é apenas uma questão de higiene. É também uma questão de como esses organismos se transformam em doenças. Esses vibriões, essas bactérias, podem na verdade infectar pessoas. Elas podem penetrar na sua pela e criar infecções. Esse é um gráfico da iniciativa de saúde oceânica e humana do NOAA, mostrando o crescimento de infecções por vibriões nas pessoas nos últimos anos. Surfistas, por exemplo, inacreditavelmente sabem disso. E se você puder ver alguns sites de surf, de fato, você não apenas vê como são as ondas ou o clima, mas nos sites de alguns surfistas você vê um pequeno alerta de excrementos. Isso significa que essa praia pode ter ótimas ondas, mas é um lugar perigoso para surfistas porque eles podem pegar, mesmo depois de uma ótima surfada, esse legado de uma infecção que pode levar muito tempo para curar. Algumas dessas infecções são na verdade resistentes à antibióticos. E isso as faz ainda mais difíceis de combater. Essas mesmas infecções criam crescimentos de algas nocivas. Esses crescimentos geram outros tipos de agentes químicos. Essa é apenas uma simples lista de alguns tipos de venenos que surgem do crescimento dessas algas nocivas: envenenamento por molusco, ciguatera, envenenamento diarréico por molusco -- vocês vão querer saber disso -- envenenamento neurotóxico e envenenamento paralítico por moluscos. Essas são coisas que estão na nossa cadeia alimentar por causa desses crescimentos exagerados. Rita Calwell traçou muito famosamente uma história interessantíssima de cólera em comunidades humanas, levada lá, não por um vetor humano normal, mas por um vetor marinho, esse copépode. Copépodes são pequenos crustáceos. Eles medem uma minúscula fração de um centímetro. E podem levar nas suas pequenas patas algumas das bactérias da cólera que então leva a doença humana. Isso acendeu a epidemia de cólera em portos ao redor do mundo e levou a uma preocupação crescente para tentar ter certeza de que o correio não levasse esses vetores de cólera pelo mundo. Então o que fazer? Temos grandes problemas em ecossistemas com fluxo interrompido que a pirâmide pode não estar funcionando bem, que o fluxo da base até o topo está sendo bloqueado e entupido. O que você faz quando tem esse tipo de fluxo interrompido? Bem, tem algumas coisas que podem ser feitas. Você pode chamar o Encanador Joe, por exemplo. E ele pode vir e consertar o fluxo. Mas de fato, se você olhar pelo mundo, existem não só lugares em que ainda há esperança onde podemos ser capazes de consertar esse problema, mas há lugares onde isso já foi consertado, onde pessoas agarraram essas questões e começaram a transformá-las. Monterey é um desses lugares. Comecei mostrando quanto tínhamos afligido o ecossistema da baía de Monterey com poluição e a indústria de enlatados e todos os problemas relacionados. Em 1932 essa é a foto. Em 2009 a foto é notavelmente diferente. As indústrias se foram. A poluição foi controlada. Mas há um sentido maior aqui sobre o que as comunidades precisam são ecossistemas que funcionam. Elas precisam de uma pirâmide funcional da base ao topo. E essa pirâmide em Monterey, agora, por causa do esforço de muitas pessoas, está funcionando melhor do que nunca nos últimos 150 anos. Isso não aconteceu por acaso. Aconteceu porque muitas pessoas investiram seu tempo e esforço e seu espírito pioneiro nisso. A esquerda, Julia Platt, a prefeita da minha cidade natal em Pacific Grove. Aos 74 anos, se tornou prefeita porque algo tinha de ser feito para proteger o oceano. Em 1931, ela produziu a primeira área marinha da califórnia protegida pela comunidade, bem próxima a indústria que mais poluía porque Julia sabia que quando as fábricas se fossem, o oceano precisava de um lugar para crescer, que o oceano precisava de um lugar para plantar uma semente. E ela queria fornecer essa semente. Outras pessoas, David Packard e Julie Packard, que foram fundamentais na produção do aquário da baía de Monterey para fixar na mente das pessoas que o oceano e a saúde de seu ecossistema eram tão importantes para a economia dali quanto comer. Essa mudança de pensamento levou a uma mudança drástica, não só nas fortunas da baía de Monterey, quanto em outros lugares pelo mundo. Bem, quero deixá-los com um pensamento que, o que estamos mesmo querendo fazer aqui é proteger a pirâmide oceânica. E essa pirâmide se conecta a nossa própria pirâmide da vida. É um planeta oceânico, e nos imaginamos como espécies terrestres. Mas a pirâmide da vida no oceano e nossas vidas na terra estão fortemente ligadas. E é apenas através de um oceano saudável que podemos permanecer saudáveis. Muito obrigado.
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E esses assuntos não são na verdade temas sobre a complexa ciência do que está acontecendo, mas de coisas que são bem conhecidas.
[ "e", "esses", "assuntos", "não", "são", "na", "verdade", "temas", "sobre", "a", "complexa", "ciência", "do", "que", "está", "acontecendo", "mas", "de", "coisas", "que", "são", "bem", "conhecidas" ]
[ "O", "O", "O", "O", "O", "O", "O", "O", "O", "O", "O", "O", "O", "O", "O", "I-COMMA", "O", "O", "O", "O", "O", "O", "I-PERIOD" ]
Pode ser algo bem complicado, o oceano. E pode ser algo bem complicado, o que é a saúde humana. E juntá-los pode parecer uma tarefa intimidadora. Mas o que vou tentar dizer é que mesmo nessa complexidade, há alguns assuntos simples que creio que, se entendermos, podemos avançar. E esses assuntos não são na verdade temas sobre a complexa ciência do que está acontecendo, mas de coisas que são bem conhecidas. E vou começar com essa. Se a mamãe não está feliz, ninguém está feliz. Sabemos disso, certo? Passamos por isso. E se pegarmos isso e construirmos a partir disso, então podemos ir ao próximo passo, que é se o oceano não está feliz, ninguém está feliz. Esse é o tópico da minha palestra. E estamos deixando o oceano muito infeliz de diversas maneiras. Essa é uma foto de Cannery Row em 1932. Cannery Row, nessa época, tinha a maior indústria de enlatados da costa oeste. Nós liberamos enormes quantidades de poluição no ar e na água. Rolf Bolin, que era um professor universitário na Hopkin's Marine Station, onde trabalho, escreveu na década de 40 que, "Os gases da espuma que flutuava na enseada da baía eram tão ruins que encardiram tintas á base de chumbo de preto." Trabalhadores dessa indústria dificilmente ficavam ali o dia todo por causa do cheiro. Mas sabem o que eles diziam? Eles diziam, "Sabe o que você respira? Você respira dinheiro." A poluição era renda para a comunidade. E essas pessoas lidaram com a poluição e a absorveram na pele e em seus corpos porque precisavam do dinheiro. Deixamos o oceano infeliz; deixamos pessoas muito infelizes, e as deixamos enfermas. A ligação entre a saúde do oceano e a saúde humana é na verdade baseada em alguns poucos e simples provérbios. E quero chamá-la de "belisque um peixinho, machuque uma baleia." A pirâmide da vida no oceano. Agora, quando um ecologista olha para oceano, tenho de lhes dizer, olhamos para o oceano de uma maneira muito diferente, e vemos coisas distintas das que uma pessoa normal vê nele. Porque quando um ecologista olha para o oceano, vemos todas essas interconexões. Vemos a base da cadeia alimentar, os plânctons, as coisas pequenas, e vemos como esses animais são comida para os animais do meio da pirâmide, e assim por diante no diagrama. E esse fluxo, esse fluxo de vida, desde a base até o topo, é o fluxo que os ecologistas vêem. E isso é o que estamos tentando preservar quando dizemos, "Salve o oceano. Cure-o." É essa pirâmide. Agora por que isso importa para a saúde humana? Porque quando introduzimos algo na base da pirâmide que não devia estar lá, coisas muito assustadoras acontecem. Poluentes, alguns criados por nós, moléculas como os PCBs que não podem ser desfeitos em nosso organismo. E eles vão para a base dessa pirâmide, e eles flutuam, vão sendo transmitidos, para predadores e vão para o topo da pirâmide. E assim, eles acumulam. Agora pra se familiarizar com isso, eu inventei um jogo. Nós não precisamos jogá-lo. Podemos apenas pensar sobre ele. É o jogo do isopor e do chocolate. Imagine que quando chegamos a esse barco, nós recebemos dois flocos de isopor. Não se pode fazer muito com eles a não ser guardar no bolso. Porque as regras são: toda vez que você oferece uma bebida a alguém, você dá a bebida a ela, e lhe dá um floco de isopor também. O que acontecerá é que os flocos de isopor vão se espalhar por essa sociedade. E vão acumular nas pessoas mais bêbadas e pão-duras. Não tem mecanismo nesse jogo para eles irem em algum lugar senão um maior e maior monte de indigestos flocos de isopor. E é exatamente isso que acontece com os PCBs nessa pirâmide alimentar. Eles acumulam no topo dela. Agora suponha que ao invés de isopor, nós pegássemos esses bonitos pequenos chocolates que ganhamos e os tivéssemos. Bem, alguns de nós os comeriam ao invés de dá-los a outros. E ao invés de acumulá-los, eles apenas ficariam em nosso grupo e não em outros. Porque eles são absorvidos por nós. E essa é a diferença entre o PCB e, vamos ver, algo natural como o omega-3, algo que queremos obter da cadeia alimentar marinha. PCBs acumulam. Temos ótimos exemplos disso, infelizmente. PCBs acumulam em golfinhos na Baía de Sarasota, no Texas, na Carolina do Norte. Eles entram na cadeia alimentar. Os golfinhos comem peixes que tem PCBs obtidos dos plânctons, e esses PCBs, sendo solúveis na gordura, acumulam nesses golfinhos. Agora, um golfinho, golfinho mãe, qualquer um -- só há uma maneira de o PCB ser expelido de seu organismo. E qual é? No leite materno. Aqui está um gráfico da quantidade de PCB em golfinhos na baía de Sarasota. Machos adultos, uma enorme quantidade. Jovens, uma enorme quantidade. Fêmeas após ter seu primeiro filhote desmamado, uma quantidade menor. Essas fêmeas, elas não estão tentando. Essas fêmeas estão transmitindo os PCBs na gordura do seus próprios leites para sua cria. E sua cria não sobrevive. A taxa de mortalidade nesses golfinhos, para o primeiro filhote de cada golfinho fêmea, é de 60 a 80 por cento. Essas mães bombeiam sua primeira cria cheia desse poluente. E a maioria morre. Agora, a mãe pode reproduzir normalmente, mas que terrível preço a se pagar pelo acúmulo desse poluente nesses animais -- a morte do primeiro filhote. Há outro grande predador no oceano, parece. Esse predador, é claro, somos nós. E também estamos comendo carne que vem de alguns desses mesmos lugares. Essa é a carne de baleia que eu fotografei em um supermercado em Tokyo -- ou não é? De fato, o que fizemos alguns anos atrás foi aprender como manipular um laboratório de biologia molecular em Tokyo e usá-lo para testar genéticamente o DNA de amostras de carne de baleia e identificar quais realmente eram. E algumas dessas amostras realmente eram carne de baleia. Algumas delas eram carnes ilegais, falando nisso. Essa é outra história. Mas algumas delas não eram de baleia. Apesar de estarem rotuladas como tal, eram de golfinho. Algumas delas eram fígado de golfinho. Algumas eram banha de golfinho. E essas partes de golfinhos tinham enorme quantidade de PCBs, dioxinas e metais pesados. E essa enorme quantidade estava sendo transmitida a pessoas que comiam essa carne. Acontece que muitos golfinhos estão sendo vendidos como carne no mercado de carne de baleia ao redor do mundo. É uma tragédia para essas populações. Mas também é uma tragédia para quem as está comendo porque eles não sabem que essa carne é tóxica. Tínhamos essas informações alguns anos atrás. Me lembro de sentar à minha mesa sendo a única pessoa no mundo que sabia que carne de baleia estava sendo vendida nesses mercados na verdade era de golfinho, e era tóxica. Tinha duas a três a 400 vezes a quantidade de toxinas permitidas pela EPA. E eu lembro de sentar à minha mesa pensando, "Bem, eu sei disso. É uma grande descoberta científica." Mas era tão terrível. E pela primeira vez na minha carreira científica eu quebrei o protocolo, que é pegar os dados e publicá-los em periódicos científicos, e então falar sobre eles. Mandamos uma carta educadíssima para o ministro da saúde no Japão e apenas apontamos que essa é uma situação intolerável, não para nós, mas para as pessoas no Japão. Porque mães que podem estar amamentando, que podem ter crianças pequenas, estariam comprando algo que pensam ser saudável, mas na verdade é tóxico. Isso levou a uma série de outras campanhas no Japão. E tenho orgulho de dizer que agora é muito difícil comprar algo no Japão que está rotulado errôneamente, apesar deles ainda venderem carne de baleia, o que acredito que eles não deveriam. Mas pelo menos ela está rotulada corretamente, e você não mais comprará carne de golfinho tóxica. Não é apenas lá que isso acontece, mas na dieta natural de algumas comunidades no ártico Canadense, nos Estados Unidos e no ártico Europeu, uma dieta natural de focas e baleias leva a uma acumulação de PCBs que foram reunidos de todos os cantos do mundo e acabaram nessas mulheres. Essas mulheres tem leite tóxico. Elas não podem amamentar sua prole, suas crianças, o leite de seu peito por causa do acúmulo dessas toxinas em sua cadeia alimentar, na sua parte da pirâmide oceânica mundial. Isso significa que o sistema imunológico delas está comprometido. Isso quer dizer que o desenvolvimento de suas crianças pode estar comprometido. E a atenção mundial nisso na última década têm reduzido o problema para essas mulheres, não por mudar a pirâmide, mas por mudar o que elas comem de cada animal. As tiramos de sua pirâmide natural para resolver esse problema. Isso é algo bom para esse problema em particular, mas não adianta nada resolver o problema da pirâmide. Há outras maneiras de quebrar essa pirâmide. A pirâmide, se introduzirmos coisas em sua base, pode voltar como em um esgoto entupido. E se introduzirmos nutrientes, esgoto, fertilizantes na base dessa pirâmide, eles podem voltar em toda sua extensão. E terminaremos com coisas que já ouvimos antes: marés vermelhas, por exemplo, que são o crescimento de algas tóxicas flutuando pelos oceanos causando danos neurológicos. Também podemos ter o crescimento de bacterias, crescimento de vírus no oceano. Essas são duas fotos de uma maré vermelha invadindo a costa e uma bactéria no gênero vibrião, que inclui o gênero que tem cólera. Quantas pessoas viram uma placa de "praia interditada"? Por que isso acontece? Acontece porque introduzimos tantas coisas na base dessa pirâmide natural oceânica que essas bactérias se entupiram e encheram as nossas praias. Frequentemente o que nos enche é o esgoto. Agora quantos de vocês já foram a um parque estadual ou nacional onde havia uma grande placa na frente dizendo, "Fechado porque o esgoto humano está tão espalhado pelo parque que não se pode usá-lo"? Não com frequência. Não toleraríamos isso. Não toleraríamos nossos parques sendo entupidos de esgoto. Mas muitas praias estão fechadas em nosso país. Elas estão fechadas mais e mais ao redor do mundo pelo mesmo motivo. E acredito que não devíamos tolerar isso também. Não é apenas uma questão de higiene. É também uma questão de como esses organismos se transformam em doenças. Esses vibriões, essas bactérias, podem na verdade infectar pessoas. Elas podem penetrar na sua pela e criar infecções. Esse é um gráfico da iniciativa de saúde oceânica e humana do NOAA, mostrando o crescimento de infecções por vibriões nas pessoas nos últimos anos. Surfistas, por exemplo, inacreditavelmente sabem disso. E se você puder ver alguns sites de surf, de fato, você não apenas vê como são as ondas ou o clima, mas nos sites de alguns surfistas você vê um pequeno alerta de excrementos. Isso significa que essa praia pode ter ótimas ondas, mas é um lugar perigoso para surfistas porque eles podem pegar, mesmo depois de uma ótima surfada, esse legado de uma infecção que pode levar muito tempo para curar. Algumas dessas infecções são na verdade resistentes à antibióticos. E isso as faz ainda mais difíceis de combater. Essas mesmas infecções criam crescimentos de algas nocivas. Esses crescimentos geram outros tipos de agentes químicos. Essa é apenas uma simples lista de alguns tipos de venenos que surgem do crescimento dessas algas nocivas: envenenamento por molusco, ciguatera, envenenamento diarréico por molusco -- vocês vão querer saber disso -- envenenamento neurotóxico e envenenamento paralítico por moluscos. Essas são coisas que estão na nossa cadeia alimentar por causa desses crescimentos exagerados. Rita Calwell traçou muito famosamente uma história interessantíssima de cólera em comunidades humanas, levada lá, não por um vetor humano normal, mas por um vetor marinho, esse copépode. Copépodes são pequenos crustáceos. Eles medem uma minúscula fração de um centímetro. E podem levar nas suas pequenas patas algumas das bactérias da cólera que então leva a doença humana. Isso acendeu a epidemia de cólera em portos ao redor do mundo e levou a uma preocupação crescente para tentar ter certeza de que o correio não levasse esses vetores de cólera pelo mundo. Então o que fazer? Temos grandes problemas em ecossistemas com fluxo interrompido que a pirâmide pode não estar funcionando bem, que o fluxo da base até o topo está sendo bloqueado e entupido. O que você faz quando tem esse tipo de fluxo interrompido? Bem, tem algumas coisas que podem ser feitas. Você pode chamar o Encanador Joe, por exemplo. E ele pode vir e consertar o fluxo. Mas de fato, se você olhar pelo mundo, existem não só lugares em que ainda há esperança onde podemos ser capazes de consertar esse problema, mas há lugares onde isso já foi consertado, onde pessoas agarraram essas questões e começaram a transformá-las. Monterey é um desses lugares. Comecei mostrando quanto tínhamos afligido o ecossistema da baía de Monterey com poluição e a indústria de enlatados e todos os problemas relacionados. Em 1932 essa é a foto. Em 2009 a foto é notavelmente diferente. As indústrias se foram. A poluição foi controlada. Mas há um sentido maior aqui sobre o que as comunidades precisam são ecossistemas que funcionam. Elas precisam de uma pirâmide funcional da base ao topo. E essa pirâmide em Monterey, agora, por causa do esforço de muitas pessoas, está funcionando melhor do que nunca nos últimos 150 anos. Isso não aconteceu por acaso. Aconteceu porque muitas pessoas investiram seu tempo e esforço e seu espírito pioneiro nisso. A esquerda, Julia Platt, a prefeita da minha cidade natal em Pacific Grove. Aos 74 anos, se tornou prefeita porque algo tinha de ser feito para proteger o oceano. Em 1931, ela produziu a primeira área marinha da califórnia protegida pela comunidade, bem próxima a indústria que mais poluía porque Julia sabia que quando as fábricas se fossem, o oceano precisava de um lugar para crescer, que o oceano precisava de um lugar para plantar uma semente. E ela queria fornecer essa semente. Outras pessoas, David Packard e Julie Packard, que foram fundamentais na produção do aquário da baía de Monterey para fixar na mente das pessoas que o oceano e a saúde de seu ecossistema eram tão importantes para a economia dali quanto comer. Essa mudança de pensamento levou a uma mudança drástica, não só nas fortunas da baía de Monterey, quanto em outros lugares pelo mundo. Bem, quero deixá-los com um pensamento que, o que estamos mesmo querendo fazer aqui é proteger a pirâmide oceânica. E essa pirâmide se conecta a nossa própria pirâmide da vida. É um planeta oceânico, e nos imaginamos como espécies terrestres. Mas a pirâmide da vida no oceano e nossas vidas na terra estão fortemente ligadas. E é apenas através de um oceano saudável que podemos permanecer saudáveis. Muito obrigado.
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E vou começar com essa.
[ "e", "vou", "começar", "com", "essa" ]
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Pode ser algo bem complicado, o oceano. E pode ser algo bem complicado, o que é a saúde humana. E juntá-los pode parecer uma tarefa intimidadora. Mas o que vou tentar dizer é que mesmo nessa complexidade, há alguns assuntos simples que creio que, se entendermos, podemos avançar. E esses assuntos não são na verdade temas sobre a complexa ciência do que está acontecendo, mas de coisas que são bem conhecidas. E vou começar com essa. Se a mamãe não está feliz, ninguém está feliz. Sabemos disso, certo? Passamos por isso. E se pegarmos isso e construirmos a partir disso, então podemos ir ao próximo passo, que é se o oceano não está feliz, ninguém está feliz. Esse é o tópico da minha palestra. E estamos deixando o oceano muito infeliz de diversas maneiras. Essa é uma foto de Cannery Row em 1932. Cannery Row, nessa época, tinha a maior indústria de enlatados da costa oeste. Nós liberamos enormes quantidades de poluição no ar e na água. Rolf Bolin, que era um professor universitário na Hopkin's Marine Station, onde trabalho, escreveu na década de 40 que, "Os gases da espuma que flutuava na enseada da baía eram tão ruins que encardiram tintas á base de chumbo de preto." Trabalhadores dessa indústria dificilmente ficavam ali o dia todo por causa do cheiro. Mas sabem o que eles diziam? Eles diziam, "Sabe o que você respira? Você respira dinheiro." A poluição era renda para a comunidade. E essas pessoas lidaram com a poluição e a absorveram na pele e em seus corpos porque precisavam do dinheiro. Deixamos o oceano infeliz; deixamos pessoas muito infelizes, e as deixamos enfermas. A ligação entre a saúde do oceano e a saúde humana é na verdade baseada em alguns poucos e simples provérbios. E quero chamá-la de "belisque um peixinho, machuque uma baleia." A pirâmide da vida no oceano. Agora, quando um ecologista olha para oceano, tenho de lhes dizer, olhamos para o oceano de uma maneira muito diferente, e vemos coisas distintas das que uma pessoa normal vê nele. Porque quando um ecologista olha para o oceano, vemos todas essas interconexões. Vemos a base da cadeia alimentar, os plânctons, as coisas pequenas, e vemos como esses animais são comida para os animais do meio da pirâmide, e assim por diante no diagrama. E esse fluxo, esse fluxo de vida, desde a base até o topo, é o fluxo que os ecologistas vêem. E isso é o que estamos tentando preservar quando dizemos, "Salve o oceano. Cure-o." É essa pirâmide. Agora por que isso importa para a saúde humana? Porque quando introduzimos algo na base da pirâmide que não devia estar lá, coisas muito assustadoras acontecem. Poluentes, alguns criados por nós, moléculas como os PCBs que não podem ser desfeitos em nosso organismo. E eles vão para a base dessa pirâmide, e eles flutuam, vão sendo transmitidos, para predadores e vão para o topo da pirâmide. E assim, eles acumulam. Agora pra se familiarizar com isso, eu inventei um jogo. Nós não precisamos jogá-lo. Podemos apenas pensar sobre ele. É o jogo do isopor e do chocolate. Imagine que quando chegamos a esse barco, nós recebemos dois flocos de isopor. Não se pode fazer muito com eles a não ser guardar no bolso. Porque as regras são: toda vez que você oferece uma bebida a alguém, você dá a bebida a ela, e lhe dá um floco de isopor também. O que acontecerá é que os flocos de isopor vão se espalhar por essa sociedade. E vão acumular nas pessoas mais bêbadas e pão-duras. Não tem mecanismo nesse jogo para eles irem em algum lugar senão um maior e maior monte de indigestos flocos de isopor. E é exatamente isso que acontece com os PCBs nessa pirâmide alimentar. Eles acumulam no topo dela. Agora suponha que ao invés de isopor, nós pegássemos esses bonitos pequenos chocolates que ganhamos e os tivéssemos. Bem, alguns de nós os comeriam ao invés de dá-los a outros. E ao invés de acumulá-los, eles apenas ficariam em nosso grupo e não em outros. Porque eles são absorvidos por nós. E essa é a diferença entre o PCB e, vamos ver, algo natural como o omega-3, algo que queremos obter da cadeia alimentar marinha. PCBs acumulam. Temos ótimos exemplos disso, infelizmente. PCBs acumulam em golfinhos na Baía de Sarasota, no Texas, na Carolina do Norte. Eles entram na cadeia alimentar. Os golfinhos comem peixes que tem PCBs obtidos dos plânctons, e esses PCBs, sendo solúveis na gordura, acumulam nesses golfinhos. Agora, um golfinho, golfinho mãe, qualquer um -- só há uma maneira de o PCB ser expelido de seu organismo. E qual é? No leite materno. Aqui está um gráfico da quantidade de PCB em golfinhos na baía de Sarasota. Machos adultos, uma enorme quantidade. Jovens, uma enorme quantidade. Fêmeas após ter seu primeiro filhote desmamado, uma quantidade menor. Essas fêmeas, elas não estão tentando. Essas fêmeas estão transmitindo os PCBs na gordura do seus próprios leites para sua cria. E sua cria não sobrevive. A taxa de mortalidade nesses golfinhos, para o primeiro filhote de cada golfinho fêmea, é de 60 a 80 por cento. Essas mães bombeiam sua primeira cria cheia desse poluente. E a maioria morre. Agora, a mãe pode reproduzir normalmente, mas que terrível preço a se pagar pelo acúmulo desse poluente nesses animais -- a morte do primeiro filhote. Há outro grande predador no oceano, parece. Esse predador, é claro, somos nós. E também estamos comendo carne que vem de alguns desses mesmos lugares. Essa é a carne de baleia que eu fotografei em um supermercado em Tokyo -- ou não é? De fato, o que fizemos alguns anos atrás foi aprender como manipular um laboratório de biologia molecular em Tokyo e usá-lo para testar genéticamente o DNA de amostras de carne de baleia e identificar quais realmente eram. E algumas dessas amostras realmente eram carne de baleia. Algumas delas eram carnes ilegais, falando nisso. Essa é outra história. Mas algumas delas não eram de baleia. Apesar de estarem rotuladas como tal, eram de golfinho. Algumas delas eram fígado de golfinho. Algumas eram banha de golfinho. E essas partes de golfinhos tinham enorme quantidade de PCBs, dioxinas e metais pesados. E essa enorme quantidade estava sendo transmitida a pessoas que comiam essa carne. Acontece que muitos golfinhos estão sendo vendidos como carne no mercado de carne de baleia ao redor do mundo. É uma tragédia para essas populações. Mas também é uma tragédia para quem as está comendo porque eles não sabem que essa carne é tóxica. Tínhamos essas informações alguns anos atrás. Me lembro de sentar à minha mesa sendo a única pessoa no mundo que sabia que carne de baleia estava sendo vendida nesses mercados na verdade era de golfinho, e era tóxica. Tinha duas a três a 400 vezes a quantidade de toxinas permitidas pela EPA. E eu lembro de sentar à minha mesa pensando, "Bem, eu sei disso. É uma grande descoberta científica." Mas era tão terrível. E pela primeira vez na minha carreira científica eu quebrei o protocolo, que é pegar os dados e publicá-los em periódicos científicos, e então falar sobre eles. Mandamos uma carta educadíssima para o ministro da saúde no Japão e apenas apontamos que essa é uma situação intolerável, não para nós, mas para as pessoas no Japão. Porque mães que podem estar amamentando, que podem ter crianças pequenas, estariam comprando algo que pensam ser saudável, mas na verdade é tóxico. Isso levou a uma série de outras campanhas no Japão. E tenho orgulho de dizer que agora é muito difícil comprar algo no Japão que está rotulado errôneamente, apesar deles ainda venderem carne de baleia, o que acredito que eles não deveriam. Mas pelo menos ela está rotulada corretamente, e você não mais comprará carne de golfinho tóxica. Não é apenas lá que isso acontece, mas na dieta natural de algumas comunidades no ártico Canadense, nos Estados Unidos e no ártico Europeu, uma dieta natural de focas e baleias leva a uma acumulação de PCBs que foram reunidos de todos os cantos do mundo e acabaram nessas mulheres. Essas mulheres tem leite tóxico. Elas não podem amamentar sua prole, suas crianças, o leite de seu peito por causa do acúmulo dessas toxinas em sua cadeia alimentar, na sua parte da pirâmide oceânica mundial. Isso significa que o sistema imunológico delas está comprometido. Isso quer dizer que o desenvolvimento de suas crianças pode estar comprometido. E a atenção mundial nisso na última década têm reduzido o problema para essas mulheres, não por mudar a pirâmide, mas por mudar o que elas comem de cada animal. As tiramos de sua pirâmide natural para resolver esse problema. Isso é algo bom para esse problema em particular, mas não adianta nada resolver o problema da pirâmide. Há outras maneiras de quebrar essa pirâmide. A pirâmide, se introduzirmos coisas em sua base, pode voltar como em um esgoto entupido. E se introduzirmos nutrientes, esgoto, fertilizantes na base dessa pirâmide, eles podem voltar em toda sua extensão. E terminaremos com coisas que já ouvimos antes: marés vermelhas, por exemplo, que são o crescimento de algas tóxicas flutuando pelos oceanos causando danos neurológicos. Também podemos ter o crescimento de bacterias, crescimento de vírus no oceano. Essas são duas fotos de uma maré vermelha invadindo a costa e uma bactéria no gênero vibrião, que inclui o gênero que tem cólera. Quantas pessoas viram uma placa de "praia interditada"? Por que isso acontece? Acontece porque introduzimos tantas coisas na base dessa pirâmide natural oceânica que essas bactérias se entupiram e encheram as nossas praias. Frequentemente o que nos enche é o esgoto. Agora quantos de vocês já foram a um parque estadual ou nacional onde havia uma grande placa na frente dizendo, "Fechado porque o esgoto humano está tão espalhado pelo parque que não se pode usá-lo"? Não com frequência. Não toleraríamos isso. Não toleraríamos nossos parques sendo entupidos de esgoto. Mas muitas praias estão fechadas em nosso país. Elas estão fechadas mais e mais ao redor do mundo pelo mesmo motivo. E acredito que não devíamos tolerar isso também. Não é apenas uma questão de higiene. É também uma questão de como esses organismos se transformam em doenças. Esses vibriões, essas bactérias, podem na verdade infectar pessoas. Elas podem penetrar na sua pela e criar infecções. Esse é um gráfico da iniciativa de saúde oceânica e humana do NOAA, mostrando o crescimento de infecções por vibriões nas pessoas nos últimos anos. Surfistas, por exemplo, inacreditavelmente sabem disso. E se você puder ver alguns sites de surf, de fato, você não apenas vê como são as ondas ou o clima, mas nos sites de alguns surfistas você vê um pequeno alerta de excrementos. Isso significa que essa praia pode ter ótimas ondas, mas é um lugar perigoso para surfistas porque eles podem pegar, mesmo depois de uma ótima surfada, esse legado de uma infecção que pode levar muito tempo para curar. Algumas dessas infecções são na verdade resistentes à antibióticos. E isso as faz ainda mais difíceis de combater. Essas mesmas infecções criam crescimentos de algas nocivas. Esses crescimentos geram outros tipos de agentes químicos. Essa é apenas uma simples lista de alguns tipos de venenos que surgem do crescimento dessas algas nocivas: envenenamento por molusco, ciguatera, envenenamento diarréico por molusco -- vocês vão querer saber disso -- envenenamento neurotóxico e envenenamento paralítico por moluscos. Essas são coisas que estão na nossa cadeia alimentar por causa desses crescimentos exagerados. Rita Calwell traçou muito famosamente uma história interessantíssima de cólera em comunidades humanas, levada lá, não por um vetor humano normal, mas por um vetor marinho, esse copépode. Copépodes são pequenos crustáceos. Eles medem uma minúscula fração de um centímetro. E podem levar nas suas pequenas patas algumas das bactérias da cólera que então leva a doença humana. Isso acendeu a epidemia de cólera em portos ao redor do mundo e levou a uma preocupação crescente para tentar ter certeza de que o correio não levasse esses vetores de cólera pelo mundo. Então o que fazer? Temos grandes problemas em ecossistemas com fluxo interrompido que a pirâmide pode não estar funcionando bem, que o fluxo da base até o topo está sendo bloqueado e entupido. O que você faz quando tem esse tipo de fluxo interrompido? Bem, tem algumas coisas que podem ser feitas. Você pode chamar o Encanador Joe, por exemplo. E ele pode vir e consertar o fluxo. Mas de fato, se você olhar pelo mundo, existem não só lugares em que ainda há esperança onde podemos ser capazes de consertar esse problema, mas há lugares onde isso já foi consertado, onde pessoas agarraram essas questões e começaram a transformá-las. Monterey é um desses lugares. Comecei mostrando quanto tínhamos afligido o ecossistema da baía de Monterey com poluição e a indústria de enlatados e todos os problemas relacionados. Em 1932 essa é a foto. Em 2009 a foto é notavelmente diferente. As indústrias se foram. A poluição foi controlada. Mas há um sentido maior aqui sobre o que as comunidades precisam são ecossistemas que funcionam. Elas precisam de uma pirâmide funcional da base ao topo. E essa pirâmide em Monterey, agora, por causa do esforço de muitas pessoas, está funcionando melhor do que nunca nos últimos 150 anos. Isso não aconteceu por acaso. Aconteceu porque muitas pessoas investiram seu tempo e esforço e seu espírito pioneiro nisso. A esquerda, Julia Platt, a prefeita da minha cidade natal em Pacific Grove. Aos 74 anos, se tornou prefeita porque algo tinha de ser feito para proteger o oceano. Em 1931, ela produziu a primeira área marinha da califórnia protegida pela comunidade, bem próxima a indústria que mais poluía porque Julia sabia que quando as fábricas se fossem, o oceano precisava de um lugar para crescer, que o oceano precisava de um lugar para plantar uma semente. E ela queria fornecer essa semente. Outras pessoas, David Packard e Julie Packard, que foram fundamentais na produção do aquário da baía de Monterey para fixar na mente das pessoas que o oceano e a saúde de seu ecossistema eram tão importantes para a economia dali quanto comer. Essa mudança de pensamento levou a uma mudança drástica, não só nas fortunas da baía de Monterey, quanto em outros lugares pelo mundo. Bem, quero deixá-los com um pensamento que, o que estamos mesmo querendo fazer aqui é proteger a pirâmide oceânica. E essa pirâmide se conecta a nossa própria pirâmide da vida. É um planeta oceânico, e nos imaginamos como espécies terrestres. Mas a pirâmide da vida no oceano e nossas vidas na terra estão fortemente ligadas. E é apenas através de um oceano saudável que podemos permanecer saudáveis. Muito obrigado.
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Se a mamãe não está feliz, ninguém está feliz.
[ "se", "a", "mamãe", "não", "está", "feliz", "ninguém", "está", "feliz" ]
[ "O", "O", "O", "O", "O", "I-COMMA", "O", "O", "I-PERIOD" ]
Pode ser algo bem complicado, o oceano. E pode ser algo bem complicado, o que é a saúde humana. E juntá-los pode parecer uma tarefa intimidadora. Mas o que vou tentar dizer é que mesmo nessa complexidade, há alguns assuntos simples que creio que, se entendermos, podemos avançar. E esses assuntos não são na verdade temas sobre a complexa ciência do que está acontecendo, mas de coisas que são bem conhecidas. E vou começar com essa. Se a mamãe não está feliz, ninguém está feliz. Sabemos disso, certo? Passamos por isso. E se pegarmos isso e construirmos a partir disso, então podemos ir ao próximo passo, que é se o oceano não está feliz, ninguém está feliz. Esse é o tópico da minha palestra. E estamos deixando o oceano muito infeliz de diversas maneiras. Essa é uma foto de Cannery Row em 1932. Cannery Row, nessa época, tinha a maior indústria de enlatados da costa oeste. Nós liberamos enormes quantidades de poluição no ar e na água. Rolf Bolin, que era um professor universitário na Hopkin's Marine Station, onde trabalho, escreveu na década de 40 que, "Os gases da espuma que flutuava na enseada da baía eram tão ruins que encardiram tintas á base de chumbo de preto." Trabalhadores dessa indústria dificilmente ficavam ali o dia todo por causa do cheiro. Mas sabem o que eles diziam? Eles diziam, "Sabe o que você respira? Você respira dinheiro." A poluição era renda para a comunidade. E essas pessoas lidaram com a poluição e a absorveram na pele e em seus corpos porque precisavam do dinheiro. Deixamos o oceano infeliz; deixamos pessoas muito infelizes, e as deixamos enfermas. A ligação entre a saúde do oceano e a saúde humana é na verdade baseada em alguns poucos e simples provérbios. E quero chamá-la de "belisque um peixinho, machuque uma baleia." A pirâmide da vida no oceano. Agora, quando um ecologista olha para oceano, tenho de lhes dizer, olhamos para o oceano de uma maneira muito diferente, e vemos coisas distintas das que uma pessoa normal vê nele. Porque quando um ecologista olha para o oceano, vemos todas essas interconexões. Vemos a base da cadeia alimentar, os plânctons, as coisas pequenas, e vemos como esses animais são comida para os animais do meio da pirâmide, e assim por diante no diagrama. E esse fluxo, esse fluxo de vida, desde a base até o topo, é o fluxo que os ecologistas vêem. E isso é o que estamos tentando preservar quando dizemos, "Salve o oceano. Cure-o." É essa pirâmide. Agora por que isso importa para a saúde humana? Porque quando introduzimos algo na base da pirâmide que não devia estar lá, coisas muito assustadoras acontecem. Poluentes, alguns criados por nós, moléculas como os PCBs que não podem ser desfeitos em nosso organismo. E eles vão para a base dessa pirâmide, e eles flutuam, vão sendo transmitidos, para predadores e vão para o topo da pirâmide. E assim, eles acumulam. Agora pra se familiarizar com isso, eu inventei um jogo. Nós não precisamos jogá-lo. Podemos apenas pensar sobre ele. É o jogo do isopor e do chocolate. Imagine que quando chegamos a esse barco, nós recebemos dois flocos de isopor. Não se pode fazer muito com eles a não ser guardar no bolso. Porque as regras são: toda vez que você oferece uma bebida a alguém, você dá a bebida a ela, e lhe dá um floco de isopor também. O que acontecerá é que os flocos de isopor vão se espalhar por essa sociedade. E vão acumular nas pessoas mais bêbadas e pão-duras. Não tem mecanismo nesse jogo para eles irem em algum lugar senão um maior e maior monte de indigestos flocos de isopor. E é exatamente isso que acontece com os PCBs nessa pirâmide alimentar. Eles acumulam no topo dela. Agora suponha que ao invés de isopor, nós pegássemos esses bonitos pequenos chocolates que ganhamos e os tivéssemos. Bem, alguns de nós os comeriam ao invés de dá-los a outros. E ao invés de acumulá-los, eles apenas ficariam em nosso grupo e não em outros. Porque eles são absorvidos por nós. E essa é a diferença entre o PCB e, vamos ver, algo natural como o omega-3, algo que queremos obter da cadeia alimentar marinha. PCBs acumulam. Temos ótimos exemplos disso, infelizmente. PCBs acumulam em golfinhos na Baía de Sarasota, no Texas, na Carolina do Norte. Eles entram na cadeia alimentar. Os golfinhos comem peixes que tem PCBs obtidos dos plânctons, e esses PCBs, sendo solúveis na gordura, acumulam nesses golfinhos. Agora, um golfinho, golfinho mãe, qualquer um -- só há uma maneira de o PCB ser expelido de seu organismo. E qual é? No leite materno. Aqui está um gráfico da quantidade de PCB em golfinhos na baía de Sarasota. Machos adultos, uma enorme quantidade. Jovens, uma enorme quantidade. Fêmeas após ter seu primeiro filhote desmamado, uma quantidade menor. Essas fêmeas, elas não estão tentando. Essas fêmeas estão transmitindo os PCBs na gordura do seus próprios leites para sua cria. E sua cria não sobrevive. A taxa de mortalidade nesses golfinhos, para o primeiro filhote de cada golfinho fêmea, é de 60 a 80 por cento. Essas mães bombeiam sua primeira cria cheia desse poluente. E a maioria morre. Agora, a mãe pode reproduzir normalmente, mas que terrível preço a se pagar pelo acúmulo desse poluente nesses animais -- a morte do primeiro filhote. Há outro grande predador no oceano, parece. Esse predador, é claro, somos nós. E também estamos comendo carne que vem de alguns desses mesmos lugares. Essa é a carne de baleia que eu fotografei em um supermercado em Tokyo -- ou não é? De fato, o que fizemos alguns anos atrás foi aprender como manipular um laboratório de biologia molecular em Tokyo e usá-lo para testar genéticamente o DNA de amostras de carne de baleia e identificar quais realmente eram. E algumas dessas amostras realmente eram carne de baleia. Algumas delas eram carnes ilegais, falando nisso. Essa é outra história. Mas algumas delas não eram de baleia. Apesar de estarem rotuladas como tal, eram de golfinho. Algumas delas eram fígado de golfinho. Algumas eram banha de golfinho. E essas partes de golfinhos tinham enorme quantidade de PCBs, dioxinas e metais pesados. E essa enorme quantidade estava sendo transmitida a pessoas que comiam essa carne. Acontece que muitos golfinhos estão sendo vendidos como carne no mercado de carne de baleia ao redor do mundo. É uma tragédia para essas populações. Mas também é uma tragédia para quem as está comendo porque eles não sabem que essa carne é tóxica. Tínhamos essas informações alguns anos atrás. Me lembro de sentar à minha mesa sendo a única pessoa no mundo que sabia que carne de baleia estava sendo vendida nesses mercados na verdade era de golfinho, e era tóxica. Tinha duas a três a 400 vezes a quantidade de toxinas permitidas pela EPA. E eu lembro de sentar à minha mesa pensando, "Bem, eu sei disso. É uma grande descoberta científica." Mas era tão terrível. E pela primeira vez na minha carreira científica eu quebrei o protocolo, que é pegar os dados e publicá-los em periódicos científicos, e então falar sobre eles. Mandamos uma carta educadíssima para o ministro da saúde no Japão e apenas apontamos que essa é uma situação intolerável, não para nós, mas para as pessoas no Japão. Porque mães que podem estar amamentando, que podem ter crianças pequenas, estariam comprando algo que pensam ser saudável, mas na verdade é tóxico. Isso levou a uma série de outras campanhas no Japão. E tenho orgulho de dizer que agora é muito difícil comprar algo no Japão que está rotulado errôneamente, apesar deles ainda venderem carne de baleia, o que acredito que eles não deveriam. Mas pelo menos ela está rotulada corretamente, e você não mais comprará carne de golfinho tóxica. Não é apenas lá que isso acontece, mas na dieta natural de algumas comunidades no ártico Canadense, nos Estados Unidos e no ártico Europeu, uma dieta natural de focas e baleias leva a uma acumulação de PCBs que foram reunidos de todos os cantos do mundo e acabaram nessas mulheres. Essas mulheres tem leite tóxico. Elas não podem amamentar sua prole, suas crianças, o leite de seu peito por causa do acúmulo dessas toxinas em sua cadeia alimentar, na sua parte da pirâmide oceânica mundial. Isso significa que o sistema imunológico delas está comprometido. Isso quer dizer que o desenvolvimento de suas crianças pode estar comprometido. E a atenção mundial nisso na última década têm reduzido o problema para essas mulheres, não por mudar a pirâmide, mas por mudar o que elas comem de cada animal. As tiramos de sua pirâmide natural para resolver esse problema. Isso é algo bom para esse problema em particular, mas não adianta nada resolver o problema da pirâmide. Há outras maneiras de quebrar essa pirâmide. A pirâmide, se introduzirmos coisas em sua base, pode voltar como em um esgoto entupido. E se introduzirmos nutrientes, esgoto, fertilizantes na base dessa pirâmide, eles podem voltar em toda sua extensão. E terminaremos com coisas que já ouvimos antes: marés vermelhas, por exemplo, que são o crescimento de algas tóxicas flutuando pelos oceanos causando danos neurológicos. Também podemos ter o crescimento de bacterias, crescimento de vírus no oceano. Essas são duas fotos de uma maré vermelha invadindo a costa e uma bactéria no gênero vibrião, que inclui o gênero que tem cólera. Quantas pessoas viram uma placa de "praia interditada"? Por que isso acontece? Acontece porque introduzimos tantas coisas na base dessa pirâmide natural oceânica que essas bactérias se entupiram e encheram as nossas praias. Frequentemente o que nos enche é o esgoto. Agora quantos de vocês já foram a um parque estadual ou nacional onde havia uma grande placa na frente dizendo, "Fechado porque o esgoto humano está tão espalhado pelo parque que não se pode usá-lo"? Não com frequência. Não toleraríamos isso. Não toleraríamos nossos parques sendo entupidos de esgoto. Mas muitas praias estão fechadas em nosso país. Elas estão fechadas mais e mais ao redor do mundo pelo mesmo motivo. E acredito que não devíamos tolerar isso também. Não é apenas uma questão de higiene. É também uma questão de como esses organismos se transformam em doenças. Esses vibriões, essas bactérias, podem na verdade infectar pessoas. Elas podem penetrar na sua pela e criar infecções. Esse é um gráfico da iniciativa de saúde oceânica e humana do NOAA, mostrando o crescimento de infecções por vibriões nas pessoas nos últimos anos. Surfistas, por exemplo, inacreditavelmente sabem disso. E se você puder ver alguns sites de surf, de fato, você não apenas vê como são as ondas ou o clima, mas nos sites de alguns surfistas você vê um pequeno alerta de excrementos. Isso significa que essa praia pode ter ótimas ondas, mas é um lugar perigoso para surfistas porque eles podem pegar, mesmo depois de uma ótima surfada, esse legado de uma infecção que pode levar muito tempo para curar. Algumas dessas infecções são na verdade resistentes à antibióticos. E isso as faz ainda mais difíceis de combater. Essas mesmas infecções criam crescimentos de algas nocivas. Esses crescimentos geram outros tipos de agentes químicos. Essa é apenas uma simples lista de alguns tipos de venenos que surgem do crescimento dessas algas nocivas: envenenamento por molusco, ciguatera, envenenamento diarréico por molusco -- vocês vão querer saber disso -- envenenamento neurotóxico e envenenamento paralítico por moluscos. Essas são coisas que estão na nossa cadeia alimentar por causa desses crescimentos exagerados. Rita Calwell traçou muito famosamente uma história interessantíssima de cólera em comunidades humanas, levada lá, não por um vetor humano normal, mas por um vetor marinho, esse copépode. Copépodes são pequenos crustáceos. Eles medem uma minúscula fração de um centímetro. E podem levar nas suas pequenas patas algumas das bactérias da cólera que então leva a doença humana. Isso acendeu a epidemia de cólera em portos ao redor do mundo e levou a uma preocupação crescente para tentar ter certeza de que o correio não levasse esses vetores de cólera pelo mundo. Então o que fazer? Temos grandes problemas em ecossistemas com fluxo interrompido que a pirâmide pode não estar funcionando bem, que o fluxo da base até o topo está sendo bloqueado e entupido. O que você faz quando tem esse tipo de fluxo interrompido? Bem, tem algumas coisas que podem ser feitas. Você pode chamar o Encanador Joe, por exemplo. E ele pode vir e consertar o fluxo. Mas de fato, se você olhar pelo mundo, existem não só lugares em que ainda há esperança onde podemos ser capazes de consertar esse problema, mas há lugares onde isso já foi consertado, onde pessoas agarraram essas questões e começaram a transformá-las. Monterey é um desses lugares. Comecei mostrando quanto tínhamos afligido o ecossistema da baía de Monterey com poluição e a indústria de enlatados e todos os problemas relacionados. Em 1932 essa é a foto. Em 2009 a foto é notavelmente diferente. As indústrias se foram. A poluição foi controlada. Mas há um sentido maior aqui sobre o que as comunidades precisam são ecossistemas que funcionam. Elas precisam de uma pirâmide funcional da base ao topo. E essa pirâmide em Monterey, agora, por causa do esforço de muitas pessoas, está funcionando melhor do que nunca nos últimos 150 anos. Isso não aconteceu por acaso. Aconteceu porque muitas pessoas investiram seu tempo e esforço e seu espírito pioneiro nisso. A esquerda, Julia Platt, a prefeita da minha cidade natal em Pacific Grove. Aos 74 anos, se tornou prefeita porque algo tinha de ser feito para proteger o oceano. Em 1931, ela produziu a primeira área marinha da califórnia protegida pela comunidade, bem próxima a indústria que mais poluía porque Julia sabia que quando as fábricas se fossem, o oceano precisava de um lugar para crescer, que o oceano precisava de um lugar para plantar uma semente. E ela queria fornecer essa semente. Outras pessoas, David Packard e Julie Packard, que foram fundamentais na produção do aquário da baía de Monterey para fixar na mente das pessoas que o oceano e a saúde de seu ecossistema eram tão importantes para a economia dali quanto comer. Essa mudança de pensamento levou a uma mudança drástica, não só nas fortunas da baía de Monterey, quanto em outros lugares pelo mundo. Bem, quero deixá-los com um pensamento que, o que estamos mesmo querendo fazer aqui é proteger a pirâmide oceânica. E essa pirâmide se conecta a nossa própria pirâmide da vida. É um planeta oceânico, e nos imaginamos como espécies terrestres. Mas a pirâmide da vida no oceano e nossas vidas na terra estão fortemente ligadas. E é apenas através de um oceano saudável que podemos permanecer saudáveis. Muito obrigado.
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Sabemos disso, certo?
[ "sabemos", "disso", "certo" ]
[ "O", "I-COMMA", "I-PERIOD" ]
Pode ser algo bem complicado, o oceano. E pode ser algo bem complicado, o que é a saúde humana. E juntá-los pode parecer uma tarefa intimidadora. Mas o que vou tentar dizer é que mesmo nessa complexidade, há alguns assuntos simples que creio que, se entendermos, podemos avançar. E esses assuntos não são na verdade temas sobre a complexa ciência do que está acontecendo, mas de coisas que são bem conhecidas. E vou começar com essa. Se a mamãe não está feliz, ninguém está feliz. Sabemos disso, certo? Passamos por isso. E se pegarmos isso e construirmos a partir disso, então podemos ir ao próximo passo, que é se o oceano não está feliz, ninguém está feliz. Esse é o tópico da minha palestra. E estamos deixando o oceano muito infeliz de diversas maneiras. Essa é uma foto de Cannery Row em 1932. Cannery Row, nessa época, tinha a maior indústria de enlatados da costa oeste. Nós liberamos enormes quantidades de poluição no ar e na água. Rolf Bolin, que era um professor universitário na Hopkin's Marine Station, onde trabalho, escreveu na década de 40 que, "Os gases da espuma que flutuava na enseada da baía eram tão ruins que encardiram tintas á base de chumbo de preto." Trabalhadores dessa indústria dificilmente ficavam ali o dia todo por causa do cheiro. Mas sabem o que eles diziam? Eles diziam, "Sabe o que você respira? Você respira dinheiro." A poluição era renda para a comunidade. E essas pessoas lidaram com a poluição e a absorveram na pele e em seus corpos porque precisavam do dinheiro. Deixamos o oceano infeliz; deixamos pessoas muito infelizes, e as deixamos enfermas. A ligação entre a saúde do oceano e a saúde humana é na verdade baseada em alguns poucos e simples provérbios. E quero chamá-la de "belisque um peixinho, machuque uma baleia." A pirâmide da vida no oceano. Agora, quando um ecologista olha para oceano, tenho de lhes dizer, olhamos para o oceano de uma maneira muito diferente, e vemos coisas distintas das que uma pessoa normal vê nele. Porque quando um ecologista olha para o oceano, vemos todas essas interconexões. Vemos a base da cadeia alimentar, os plânctons, as coisas pequenas, e vemos como esses animais são comida para os animais do meio da pirâmide, e assim por diante no diagrama. E esse fluxo, esse fluxo de vida, desde a base até o topo, é o fluxo que os ecologistas vêem. E isso é o que estamos tentando preservar quando dizemos, "Salve o oceano. Cure-o." É essa pirâmide. Agora por que isso importa para a saúde humana? Porque quando introduzimos algo na base da pirâmide que não devia estar lá, coisas muito assustadoras acontecem. Poluentes, alguns criados por nós, moléculas como os PCBs que não podem ser desfeitos em nosso organismo. E eles vão para a base dessa pirâmide, e eles flutuam, vão sendo transmitidos, para predadores e vão para o topo da pirâmide. E assim, eles acumulam. Agora pra se familiarizar com isso, eu inventei um jogo. Nós não precisamos jogá-lo. Podemos apenas pensar sobre ele. É o jogo do isopor e do chocolate. Imagine que quando chegamos a esse barco, nós recebemos dois flocos de isopor. Não se pode fazer muito com eles a não ser guardar no bolso. Porque as regras são: toda vez que você oferece uma bebida a alguém, você dá a bebida a ela, e lhe dá um floco de isopor também. O que acontecerá é que os flocos de isopor vão se espalhar por essa sociedade. E vão acumular nas pessoas mais bêbadas e pão-duras. Não tem mecanismo nesse jogo para eles irem em algum lugar senão um maior e maior monte de indigestos flocos de isopor. E é exatamente isso que acontece com os PCBs nessa pirâmide alimentar. Eles acumulam no topo dela. Agora suponha que ao invés de isopor, nós pegássemos esses bonitos pequenos chocolates que ganhamos e os tivéssemos. Bem, alguns de nós os comeriam ao invés de dá-los a outros. E ao invés de acumulá-los, eles apenas ficariam em nosso grupo e não em outros. Porque eles são absorvidos por nós. E essa é a diferença entre o PCB e, vamos ver, algo natural como o omega-3, algo que queremos obter da cadeia alimentar marinha. PCBs acumulam. Temos ótimos exemplos disso, infelizmente. PCBs acumulam em golfinhos na Baía de Sarasota, no Texas, na Carolina do Norte. Eles entram na cadeia alimentar. Os golfinhos comem peixes que tem PCBs obtidos dos plânctons, e esses PCBs, sendo solúveis na gordura, acumulam nesses golfinhos. Agora, um golfinho, golfinho mãe, qualquer um -- só há uma maneira de o PCB ser expelido de seu organismo. E qual é? No leite materno. Aqui está um gráfico da quantidade de PCB em golfinhos na baía de Sarasota. Machos adultos, uma enorme quantidade. Jovens, uma enorme quantidade. Fêmeas após ter seu primeiro filhote desmamado, uma quantidade menor. Essas fêmeas, elas não estão tentando. Essas fêmeas estão transmitindo os PCBs na gordura do seus próprios leites para sua cria. E sua cria não sobrevive. A taxa de mortalidade nesses golfinhos, para o primeiro filhote de cada golfinho fêmea, é de 60 a 80 por cento. Essas mães bombeiam sua primeira cria cheia desse poluente. E a maioria morre. Agora, a mãe pode reproduzir normalmente, mas que terrível preço a se pagar pelo acúmulo desse poluente nesses animais -- a morte do primeiro filhote. Há outro grande predador no oceano, parece. Esse predador, é claro, somos nós. E também estamos comendo carne que vem de alguns desses mesmos lugares. Essa é a carne de baleia que eu fotografei em um supermercado em Tokyo -- ou não é? De fato, o que fizemos alguns anos atrás foi aprender como manipular um laboratório de biologia molecular em Tokyo e usá-lo para testar genéticamente o DNA de amostras de carne de baleia e identificar quais realmente eram. E algumas dessas amostras realmente eram carne de baleia. Algumas delas eram carnes ilegais, falando nisso. Essa é outra história. Mas algumas delas não eram de baleia. Apesar de estarem rotuladas como tal, eram de golfinho. Algumas delas eram fígado de golfinho. Algumas eram banha de golfinho. E essas partes de golfinhos tinham enorme quantidade de PCBs, dioxinas e metais pesados. E essa enorme quantidade estava sendo transmitida a pessoas que comiam essa carne. Acontece que muitos golfinhos estão sendo vendidos como carne no mercado de carne de baleia ao redor do mundo. É uma tragédia para essas populações. Mas também é uma tragédia para quem as está comendo porque eles não sabem que essa carne é tóxica. Tínhamos essas informações alguns anos atrás. Me lembro de sentar à minha mesa sendo a única pessoa no mundo que sabia que carne de baleia estava sendo vendida nesses mercados na verdade era de golfinho, e era tóxica. Tinha duas a três a 400 vezes a quantidade de toxinas permitidas pela EPA. E eu lembro de sentar à minha mesa pensando, "Bem, eu sei disso. É uma grande descoberta científica." Mas era tão terrível. E pela primeira vez na minha carreira científica eu quebrei o protocolo, que é pegar os dados e publicá-los em periódicos científicos, e então falar sobre eles. Mandamos uma carta educadíssima para o ministro da saúde no Japão e apenas apontamos que essa é uma situação intolerável, não para nós, mas para as pessoas no Japão. Porque mães que podem estar amamentando, que podem ter crianças pequenas, estariam comprando algo que pensam ser saudável, mas na verdade é tóxico. Isso levou a uma série de outras campanhas no Japão. E tenho orgulho de dizer que agora é muito difícil comprar algo no Japão que está rotulado errôneamente, apesar deles ainda venderem carne de baleia, o que acredito que eles não deveriam. Mas pelo menos ela está rotulada corretamente, e você não mais comprará carne de golfinho tóxica. Não é apenas lá que isso acontece, mas na dieta natural de algumas comunidades no ártico Canadense, nos Estados Unidos e no ártico Europeu, uma dieta natural de focas e baleias leva a uma acumulação de PCBs que foram reunidos de todos os cantos do mundo e acabaram nessas mulheres. Essas mulheres tem leite tóxico. Elas não podem amamentar sua prole, suas crianças, o leite de seu peito por causa do acúmulo dessas toxinas em sua cadeia alimentar, na sua parte da pirâmide oceânica mundial. Isso significa que o sistema imunológico delas está comprometido. Isso quer dizer que o desenvolvimento de suas crianças pode estar comprometido. E a atenção mundial nisso na última década têm reduzido o problema para essas mulheres, não por mudar a pirâmide, mas por mudar o que elas comem de cada animal. As tiramos de sua pirâmide natural para resolver esse problema. Isso é algo bom para esse problema em particular, mas não adianta nada resolver o problema da pirâmide. Há outras maneiras de quebrar essa pirâmide. A pirâmide, se introduzirmos coisas em sua base, pode voltar como em um esgoto entupido. E se introduzirmos nutrientes, esgoto, fertilizantes na base dessa pirâmide, eles podem voltar em toda sua extensão. E terminaremos com coisas que já ouvimos antes: marés vermelhas, por exemplo, que são o crescimento de algas tóxicas flutuando pelos oceanos causando danos neurológicos. Também podemos ter o crescimento de bacterias, crescimento de vírus no oceano. Essas são duas fotos de uma maré vermelha invadindo a costa e uma bactéria no gênero vibrião, que inclui o gênero que tem cólera. Quantas pessoas viram uma placa de "praia interditada"? Por que isso acontece? Acontece porque introduzimos tantas coisas na base dessa pirâmide natural oceânica que essas bactérias se entupiram e encheram as nossas praias. Frequentemente o que nos enche é o esgoto. Agora quantos de vocês já foram a um parque estadual ou nacional onde havia uma grande placa na frente dizendo, "Fechado porque o esgoto humano está tão espalhado pelo parque que não se pode usá-lo"? Não com frequência. Não toleraríamos isso. Não toleraríamos nossos parques sendo entupidos de esgoto. Mas muitas praias estão fechadas em nosso país. Elas estão fechadas mais e mais ao redor do mundo pelo mesmo motivo. E acredito que não devíamos tolerar isso também. Não é apenas uma questão de higiene. É também uma questão de como esses organismos se transformam em doenças. Esses vibriões, essas bactérias, podem na verdade infectar pessoas. Elas podem penetrar na sua pela e criar infecções. Esse é um gráfico da iniciativa de saúde oceânica e humana do NOAA, mostrando o crescimento de infecções por vibriões nas pessoas nos últimos anos. Surfistas, por exemplo, inacreditavelmente sabem disso. E se você puder ver alguns sites de surf, de fato, você não apenas vê como são as ondas ou o clima, mas nos sites de alguns surfistas você vê um pequeno alerta de excrementos. Isso significa que essa praia pode ter ótimas ondas, mas é um lugar perigoso para surfistas porque eles podem pegar, mesmo depois de uma ótima surfada, esse legado de uma infecção que pode levar muito tempo para curar. Algumas dessas infecções são na verdade resistentes à antibióticos. E isso as faz ainda mais difíceis de combater. Essas mesmas infecções criam crescimentos de algas nocivas. Esses crescimentos geram outros tipos de agentes químicos. Essa é apenas uma simples lista de alguns tipos de venenos que surgem do crescimento dessas algas nocivas: envenenamento por molusco, ciguatera, envenenamento diarréico por molusco -- vocês vão querer saber disso -- envenenamento neurotóxico e envenenamento paralítico por moluscos. Essas são coisas que estão na nossa cadeia alimentar por causa desses crescimentos exagerados. Rita Calwell traçou muito famosamente uma história interessantíssima de cólera em comunidades humanas, levada lá, não por um vetor humano normal, mas por um vetor marinho, esse copépode. Copépodes são pequenos crustáceos. Eles medem uma minúscula fração de um centímetro. E podem levar nas suas pequenas patas algumas das bactérias da cólera que então leva a doença humana. Isso acendeu a epidemia de cólera em portos ao redor do mundo e levou a uma preocupação crescente para tentar ter certeza de que o correio não levasse esses vetores de cólera pelo mundo. Então o que fazer? Temos grandes problemas em ecossistemas com fluxo interrompido que a pirâmide pode não estar funcionando bem, que o fluxo da base até o topo está sendo bloqueado e entupido. O que você faz quando tem esse tipo de fluxo interrompido? Bem, tem algumas coisas que podem ser feitas. Você pode chamar o Encanador Joe, por exemplo. E ele pode vir e consertar o fluxo. Mas de fato, se você olhar pelo mundo, existem não só lugares em que ainda há esperança onde podemos ser capazes de consertar esse problema, mas há lugares onde isso já foi consertado, onde pessoas agarraram essas questões e começaram a transformá-las. Monterey é um desses lugares. Comecei mostrando quanto tínhamos afligido o ecossistema da baía de Monterey com poluição e a indústria de enlatados e todos os problemas relacionados. Em 1932 essa é a foto. Em 2009 a foto é notavelmente diferente. As indústrias se foram. A poluição foi controlada. Mas há um sentido maior aqui sobre o que as comunidades precisam são ecossistemas que funcionam. Elas precisam de uma pirâmide funcional da base ao topo. E essa pirâmide em Monterey, agora, por causa do esforço de muitas pessoas, está funcionando melhor do que nunca nos últimos 150 anos. Isso não aconteceu por acaso. Aconteceu porque muitas pessoas investiram seu tempo e esforço e seu espírito pioneiro nisso. A esquerda, Julia Platt, a prefeita da minha cidade natal em Pacific Grove. Aos 74 anos, se tornou prefeita porque algo tinha de ser feito para proteger o oceano. Em 1931, ela produziu a primeira área marinha da califórnia protegida pela comunidade, bem próxima a indústria que mais poluía porque Julia sabia que quando as fábricas se fossem, o oceano precisava de um lugar para crescer, que o oceano precisava de um lugar para plantar uma semente. E ela queria fornecer essa semente. Outras pessoas, David Packard e Julie Packard, que foram fundamentais na produção do aquário da baía de Monterey para fixar na mente das pessoas que o oceano e a saúde de seu ecossistema eram tão importantes para a economia dali quanto comer. Essa mudança de pensamento levou a uma mudança drástica, não só nas fortunas da baía de Monterey, quanto em outros lugares pelo mundo. Bem, quero deixá-los com um pensamento que, o que estamos mesmo querendo fazer aqui é proteger a pirâmide oceânica. E essa pirâmide se conecta a nossa própria pirâmide da vida. É um planeta oceânico, e nos imaginamos como espécies terrestres. Mas a pirâmide da vida no oceano e nossas vidas na terra estão fortemente ligadas. E é apenas através de um oceano saudável que podemos permanecer saudáveis. Muito obrigado.
pt
0
Passamos por isso.
[ "passamos", "por", "isso" ]
[ "O", "O", "I-PERIOD" ]
Pode ser algo bem complicado, o oceano. E pode ser algo bem complicado, o que é a saúde humana. E juntá-los pode parecer uma tarefa intimidadora. Mas o que vou tentar dizer é que mesmo nessa complexidade, há alguns assuntos simples que creio que, se entendermos, podemos avançar. E esses assuntos não são na verdade temas sobre a complexa ciência do que está acontecendo, mas de coisas que são bem conhecidas. E vou começar com essa. Se a mamãe não está feliz, ninguém está feliz. Sabemos disso, certo? Passamos por isso. E se pegarmos isso e construirmos a partir disso, então podemos ir ao próximo passo, que é se o oceano não está feliz, ninguém está feliz. Esse é o tópico da minha palestra. E estamos deixando o oceano muito infeliz de diversas maneiras. Essa é uma foto de Cannery Row em 1932. Cannery Row, nessa época, tinha a maior indústria de enlatados da costa oeste. Nós liberamos enormes quantidades de poluição no ar e na água. Rolf Bolin, que era um professor universitário na Hopkin's Marine Station, onde trabalho, escreveu na década de 40 que, "Os gases da espuma que flutuava na enseada da baía eram tão ruins que encardiram tintas á base de chumbo de preto." Trabalhadores dessa indústria dificilmente ficavam ali o dia todo por causa do cheiro. Mas sabem o que eles diziam? Eles diziam, "Sabe o que você respira? Você respira dinheiro." A poluição era renda para a comunidade. E essas pessoas lidaram com a poluição e a absorveram na pele e em seus corpos porque precisavam do dinheiro. Deixamos o oceano infeliz; deixamos pessoas muito infelizes, e as deixamos enfermas. A ligação entre a saúde do oceano e a saúde humana é na verdade baseada em alguns poucos e simples provérbios. E quero chamá-la de "belisque um peixinho, machuque uma baleia." A pirâmide da vida no oceano. Agora, quando um ecologista olha para oceano, tenho de lhes dizer, olhamos para o oceano de uma maneira muito diferente, e vemos coisas distintas das que uma pessoa normal vê nele. Porque quando um ecologista olha para o oceano, vemos todas essas interconexões. Vemos a base da cadeia alimentar, os plânctons, as coisas pequenas, e vemos como esses animais são comida para os animais do meio da pirâmide, e assim por diante no diagrama. E esse fluxo, esse fluxo de vida, desde a base até o topo, é o fluxo que os ecologistas vêem. E isso é o que estamos tentando preservar quando dizemos, "Salve o oceano. Cure-o." É essa pirâmide. Agora por que isso importa para a saúde humana? Porque quando introduzimos algo na base da pirâmide que não devia estar lá, coisas muito assustadoras acontecem. Poluentes, alguns criados por nós, moléculas como os PCBs que não podem ser desfeitos em nosso organismo. E eles vão para a base dessa pirâmide, e eles flutuam, vão sendo transmitidos, para predadores e vão para o topo da pirâmide. E assim, eles acumulam. Agora pra se familiarizar com isso, eu inventei um jogo. Nós não precisamos jogá-lo. Podemos apenas pensar sobre ele. É o jogo do isopor e do chocolate. Imagine que quando chegamos a esse barco, nós recebemos dois flocos de isopor. Não se pode fazer muito com eles a não ser guardar no bolso. Porque as regras são: toda vez que você oferece uma bebida a alguém, você dá a bebida a ela, e lhe dá um floco de isopor também. O que acontecerá é que os flocos de isopor vão se espalhar por essa sociedade. E vão acumular nas pessoas mais bêbadas e pão-duras. Não tem mecanismo nesse jogo para eles irem em algum lugar senão um maior e maior monte de indigestos flocos de isopor. E é exatamente isso que acontece com os PCBs nessa pirâmide alimentar. Eles acumulam no topo dela. Agora suponha que ao invés de isopor, nós pegássemos esses bonitos pequenos chocolates que ganhamos e os tivéssemos. Bem, alguns de nós os comeriam ao invés de dá-los a outros. E ao invés de acumulá-los, eles apenas ficariam em nosso grupo e não em outros. Porque eles são absorvidos por nós. E essa é a diferença entre o PCB e, vamos ver, algo natural como o omega-3, algo que queremos obter da cadeia alimentar marinha. PCBs acumulam. Temos ótimos exemplos disso, infelizmente. PCBs acumulam em golfinhos na Baía de Sarasota, no Texas, na Carolina do Norte. Eles entram na cadeia alimentar. Os golfinhos comem peixes que tem PCBs obtidos dos plânctons, e esses PCBs, sendo solúveis na gordura, acumulam nesses golfinhos. Agora, um golfinho, golfinho mãe, qualquer um -- só há uma maneira de o PCB ser expelido de seu organismo. E qual é? No leite materno. Aqui está um gráfico da quantidade de PCB em golfinhos na baía de Sarasota. Machos adultos, uma enorme quantidade. Jovens, uma enorme quantidade. Fêmeas após ter seu primeiro filhote desmamado, uma quantidade menor. Essas fêmeas, elas não estão tentando. Essas fêmeas estão transmitindo os PCBs na gordura do seus próprios leites para sua cria. E sua cria não sobrevive. A taxa de mortalidade nesses golfinhos, para o primeiro filhote de cada golfinho fêmea, é de 60 a 80 por cento. Essas mães bombeiam sua primeira cria cheia desse poluente. E a maioria morre. Agora, a mãe pode reproduzir normalmente, mas que terrível preço a se pagar pelo acúmulo desse poluente nesses animais -- a morte do primeiro filhote. Há outro grande predador no oceano, parece. Esse predador, é claro, somos nós. E também estamos comendo carne que vem de alguns desses mesmos lugares. Essa é a carne de baleia que eu fotografei em um supermercado em Tokyo -- ou não é? De fato, o que fizemos alguns anos atrás foi aprender como manipular um laboratório de biologia molecular em Tokyo e usá-lo para testar genéticamente o DNA de amostras de carne de baleia e identificar quais realmente eram. E algumas dessas amostras realmente eram carne de baleia. Algumas delas eram carnes ilegais, falando nisso. Essa é outra história. Mas algumas delas não eram de baleia. Apesar de estarem rotuladas como tal, eram de golfinho. Algumas delas eram fígado de golfinho. Algumas eram banha de golfinho. E essas partes de golfinhos tinham enorme quantidade de PCBs, dioxinas e metais pesados. E essa enorme quantidade estava sendo transmitida a pessoas que comiam essa carne. Acontece que muitos golfinhos estão sendo vendidos como carne no mercado de carne de baleia ao redor do mundo. É uma tragédia para essas populações. Mas também é uma tragédia para quem as está comendo porque eles não sabem que essa carne é tóxica. Tínhamos essas informações alguns anos atrás. Me lembro de sentar à minha mesa sendo a única pessoa no mundo que sabia que carne de baleia estava sendo vendida nesses mercados na verdade era de golfinho, e era tóxica. Tinha duas a três a 400 vezes a quantidade de toxinas permitidas pela EPA. E eu lembro de sentar à minha mesa pensando, "Bem, eu sei disso. É uma grande descoberta científica." Mas era tão terrível. E pela primeira vez na minha carreira científica eu quebrei o protocolo, que é pegar os dados e publicá-los em periódicos científicos, e então falar sobre eles. Mandamos uma carta educadíssima para o ministro da saúde no Japão e apenas apontamos que essa é uma situação intolerável, não para nós, mas para as pessoas no Japão. Porque mães que podem estar amamentando, que podem ter crianças pequenas, estariam comprando algo que pensam ser saudável, mas na verdade é tóxico. Isso levou a uma série de outras campanhas no Japão. E tenho orgulho de dizer que agora é muito difícil comprar algo no Japão que está rotulado errôneamente, apesar deles ainda venderem carne de baleia, o que acredito que eles não deveriam. Mas pelo menos ela está rotulada corretamente, e você não mais comprará carne de golfinho tóxica. Não é apenas lá que isso acontece, mas na dieta natural de algumas comunidades no ártico Canadense, nos Estados Unidos e no ártico Europeu, uma dieta natural de focas e baleias leva a uma acumulação de PCBs que foram reunidos de todos os cantos do mundo e acabaram nessas mulheres. Essas mulheres tem leite tóxico. Elas não podem amamentar sua prole, suas crianças, o leite de seu peito por causa do acúmulo dessas toxinas em sua cadeia alimentar, na sua parte da pirâmide oceânica mundial. Isso significa que o sistema imunológico delas está comprometido. Isso quer dizer que o desenvolvimento de suas crianças pode estar comprometido. E a atenção mundial nisso na última década têm reduzido o problema para essas mulheres, não por mudar a pirâmide, mas por mudar o que elas comem de cada animal. As tiramos de sua pirâmide natural para resolver esse problema. Isso é algo bom para esse problema em particular, mas não adianta nada resolver o problema da pirâmide. Há outras maneiras de quebrar essa pirâmide. A pirâmide, se introduzirmos coisas em sua base, pode voltar como em um esgoto entupido. E se introduzirmos nutrientes, esgoto, fertilizantes na base dessa pirâmide, eles podem voltar em toda sua extensão. E terminaremos com coisas que já ouvimos antes: marés vermelhas, por exemplo, que são o crescimento de algas tóxicas flutuando pelos oceanos causando danos neurológicos. Também podemos ter o crescimento de bacterias, crescimento de vírus no oceano. Essas são duas fotos de uma maré vermelha invadindo a costa e uma bactéria no gênero vibrião, que inclui o gênero que tem cólera. Quantas pessoas viram uma placa de "praia interditada"? Por que isso acontece? Acontece porque introduzimos tantas coisas na base dessa pirâmide natural oceânica que essas bactérias se entupiram e encheram as nossas praias. Frequentemente o que nos enche é o esgoto. Agora quantos de vocês já foram a um parque estadual ou nacional onde havia uma grande placa na frente dizendo, "Fechado porque o esgoto humano está tão espalhado pelo parque que não se pode usá-lo"? Não com frequência. Não toleraríamos isso. Não toleraríamos nossos parques sendo entupidos de esgoto. Mas muitas praias estão fechadas em nosso país. Elas estão fechadas mais e mais ao redor do mundo pelo mesmo motivo. E acredito que não devíamos tolerar isso também. Não é apenas uma questão de higiene. É também uma questão de como esses organismos se transformam em doenças. Esses vibriões, essas bactérias, podem na verdade infectar pessoas. Elas podem penetrar na sua pela e criar infecções. Esse é um gráfico da iniciativa de saúde oceânica e humana do NOAA, mostrando o crescimento de infecções por vibriões nas pessoas nos últimos anos. Surfistas, por exemplo, inacreditavelmente sabem disso. E se você puder ver alguns sites de surf, de fato, você não apenas vê como são as ondas ou o clima, mas nos sites de alguns surfistas você vê um pequeno alerta de excrementos. Isso significa que essa praia pode ter ótimas ondas, mas é um lugar perigoso para surfistas porque eles podem pegar, mesmo depois de uma ótima surfada, esse legado de uma infecção que pode levar muito tempo para curar. Algumas dessas infecções são na verdade resistentes à antibióticos. E isso as faz ainda mais difíceis de combater. Essas mesmas infecções criam crescimentos de algas nocivas. Esses crescimentos geram outros tipos de agentes químicos. Essa é apenas uma simples lista de alguns tipos de venenos que surgem do crescimento dessas algas nocivas: envenenamento por molusco, ciguatera, envenenamento diarréico por molusco -- vocês vão querer saber disso -- envenenamento neurotóxico e envenenamento paralítico por moluscos. Essas são coisas que estão na nossa cadeia alimentar por causa desses crescimentos exagerados. Rita Calwell traçou muito famosamente uma história interessantíssima de cólera em comunidades humanas, levada lá, não por um vetor humano normal, mas por um vetor marinho, esse copépode. Copépodes são pequenos crustáceos. Eles medem uma minúscula fração de um centímetro. E podem levar nas suas pequenas patas algumas das bactérias da cólera que então leva a doença humana. Isso acendeu a epidemia de cólera em portos ao redor do mundo e levou a uma preocupação crescente para tentar ter certeza de que o correio não levasse esses vetores de cólera pelo mundo. Então o que fazer? Temos grandes problemas em ecossistemas com fluxo interrompido que a pirâmide pode não estar funcionando bem, que o fluxo da base até o topo está sendo bloqueado e entupido. O que você faz quando tem esse tipo de fluxo interrompido? Bem, tem algumas coisas que podem ser feitas. Você pode chamar o Encanador Joe, por exemplo. E ele pode vir e consertar o fluxo. Mas de fato, se você olhar pelo mundo, existem não só lugares em que ainda há esperança onde podemos ser capazes de consertar esse problema, mas há lugares onde isso já foi consertado, onde pessoas agarraram essas questões e começaram a transformá-las. Monterey é um desses lugares. Comecei mostrando quanto tínhamos afligido o ecossistema da baía de Monterey com poluição e a indústria de enlatados e todos os problemas relacionados. Em 1932 essa é a foto. Em 2009 a foto é notavelmente diferente. As indústrias se foram. A poluição foi controlada. Mas há um sentido maior aqui sobre o que as comunidades precisam são ecossistemas que funcionam. Elas precisam de uma pirâmide funcional da base ao topo. E essa pirâmide em Monterey, agora, por causa do esforço de muitas pessoas, está funcionando melhor do que nunca nos últimos 150 anos. Isso não aconteceu por acaso. Aconteceu porque muitas pessoas investiram seu tempo e esforço e seu espírito pioneiro nisso. A esquerda, Julia Platt, a prefeita da minha cidade natal em Pacific Grove. Aos 74 anos, se tornou prefeita porque algo tinha de ser feito para proteger o oceano. Em 1931, ela produziu a primeira área marinha da califórnia protegida pela comunidade, bem próxima a indústria que mais poluía porque Julia sabia que quando as fábricas se fossem, o oceano precisava de um lugar para crescer, que o oceano precisava de um lugar para plantar uma semente. E ela queria fornecer essa semente. Outras pessoas, David Packard e Julie Packard, que foram fundamentais na produção do aquário da baía de Monterey para fixar na mente das pessoas que o oceano e a saúde de seu ecossistema eram tão importantes para a economia dali quanto comer. Essa mudança de pensamento levou a uma mudança drástica, não só nas fortunas da baía de Monterey, quanto em outros lugares pelo mundo. Bem, quero deixá-los com um pensamento que, o que estamos mesmo querendo fazer aqui é proteger a pirâmide oceânica. E essa pirâmide se conecta a nossa própria pirâmide da vida. É um planeta oceânico, e nos imaginamos como espécies terrestres. Mas a pirâmide da vida no oceano e nossas vidas na terra estão fortemente ligadas. E é apenas através de um oceano saudável que podemos permanecer saudáveis. Muito obrigado.
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E se pegarmos isso e construirmos a partir disso, então podemos ir ao próximo passo, que é se o oceano não está feliz, ninguém está feliz.
[ "e", "se", "pegarmos", "isso", "e", "construirmos", "a", "partir", "disso", "então", "podemos", "ir", "ao", "próximo", "passo", "que", "é", "se", "o", "oceano", "não", "está", "feliz", "ninguém", "está", "feliz" ]
[ "O", "O", "O", "O", "O", "O", "O", "O", "I-COMMA", "O", "O", "O", "O", "O", "I-COMMA", "O", "O", "O", "O", "O", "O", "O", "I-COMMA", "O", "O", "I-PERIOD" ]
Pode ser algo bem complicado, o oceano. E pode ser algo bem complicado, o que é a saúde humana. E juntá-los pode parecer uma tarefa intimidadora. Mas o que vou tentar dizer é que mesmo nessa complexidade, há alguns assuntos simples que creio que, se entendermos, podemos avançar. E esses assuntos não são na verdade temas sobre a complexa ciência do que está acontecendo, mas de coisas que são bem conhecidas. E vou começar com essa. Se a mamãe não está feliz, ninguém está feliz. Sabemos disso, certo? Passamos por isso. E se pegarmos isso e construirmos a partir disso, então podemos ir ao próximo passo, que é se o oceano não está feliz, ninguém está feliz. Esse é o tópico da minha palestra. E estamos deixando o oceano muito infeliz de diversas maneiras. Essa é uma foto de Cannery Row em 1932. Cannery Row, nessa época, tinha a maior indústria de enlatados da costa oeste. Nós liberamos enormes quantidades de poluição no ar e na água. Rolf Bolin, que era um professor universitário na Hopkin's Marine Station, onde trabalho, escreveu na década de 40 que, "Os gases da espuma que flutuava na enseada da baía eram tão ruins que encardiram tintas á base de chumbo de preto." Trabalhadores dessa indústria dificilmente ficavam ali o dia todo por causa do cheiro. Mas sabem o que eles diziam? Eles diziam, "Sabe o que você respira? Você respira dinheiro." A poluição era renda para a comunidade. E essas pessoas lidaram com a poluição e a absorveram na pele e em seus corpos porque precisavam do dinheiro. Deixamos o oceano infeliz; deixamos pessoas muito infelizes, e as deixamos enfermas. A ligação entre a saúde do oceano e a saúde humana é na verdade baseada em alguns poucos e simples provérbios. E quero chamá-la de "belisque um peixinho, machuque uma baleia." A pirâmide da vida no oceano. Agora, quando um ecologista olha para oceano, tenho de lhes dizer, olhamos para o oceano de uma maneira muito diferente, e vemos coisas distintas das que uma pessoa normal vê nele. Porque quando um ecologista olha para o oceano, vemos todas essas interconexões. Vemos a base da cadeia alimentar, os plânctons, as coisas pequenas, e vemos como esses animais são comida para os animais do meio da pirâmide, e assim por diante no diagrama. E esse fluxo, esse fluxo de vida, desde a base até o topo, é o fluxo que os ecologistas vêem. E isso é o que estamos tentando preservar quando dizemos, "Salve o oceano. Cure-o." É essa pirâmide. Agora por que isso importa para a saúde humana? Porque quando introduzimos algo na base da pirâmide que não devia estar lá, coisas muito assustadoras acontecem. Poluentes, alguns criados por nós, moléculas como os PCBs que não podem ser desfeitos em nosso organismo. E eles vão para a base dessa pirâmide, e eles flutuam, vão sendo transmitidos, para predadores e vão para o topo da pirâmide. E assim, eles acumulam. Agora pra se familiarizar com isso, eu inventei um jogo. Nós não precisamos jogá-lo. Podemos apenas pensar sobre ele. É o jogo do isopor e do chocolate. Imagine que quando chegamos a esse barco, nós recebemos dois flocos de isopor. Não se pode fazer muito com eles a não ser guardar no bolso. Porque as regras são: toda vez que você oferece uma bebida a alguém, você dá a bebida a ela, e lhe dá um floco de isopor também. O que acontecerá é que os flocos de isopor vão se espalhar por essa sociedade. E vão acumular nas pessoas mais bêbadas e pão-duras. Não tem mecanismo nesse jogo para eles irem em algum lugar senão um maior e maior monte de indigestos flocos de isopor. E é exatamente isso que acontece com os PCBs nessa pirâmide alimentar. Eles acumulam no topo dela. Agora suponha que ao invés de isopor, nós pegássemos esses bonitos pequenos chocolates que ganhamos e os tivéssemos. Bem, alguns de nós os comeriam ao invés de dá-los a outros. E ao invés de acumulá-los, eles apenas ficariam em nosso grupo e não em outros. Porque eles são absorvidos por nós. E essa é a diferença entre o PCB e, vamos ver, algo natural como o omega-3, algo que queremos obter da cadeia alimentar marinha. PCBs acumulam. Temos ótimos exemplos disso, infelizmente. PCBs acumulam em golfinhos na Baía de Sarasota, no Texas, na Carolina do Norte. Eles entram na cadeia alimentar. Os golfinhos comem peixes que tem PCBs obtidos dos plânctons, e esses PCBs, sendo solúveis na gordura, acumulam nesses golfinhos. Agora, um golfinho, golfinho mãe, qualquer um -- só há uma maneira de o PCB ser expelido de seu organismo. E qual é? No leite materno. Aqui está um gráfico da quantidade de PCB em golfinhos na baía de Sarasota. Machos adultos, uma enorme quantidade. Jovens, uma enorme quantidade. Fêmeas após ter seu primeiro filhote desmamado, uma quantidade menor. Essas fêmeas, elas não estão tentando. Essas fêmeas estão transmitindo os PCBs na gordura do seus próprios leites para sua cria. E sua cria não sobrevive. A taxa de mortalidade nesses golfinhos, para o primeiro filhote de cada golfinho fêmea, é de 60 a 80 por cento. Essas mães bombeiam sua primeira cria cheia desse poluente. E a maioria morre. Agora, a mãe pode reproduzir normalmente, mas que terrível preço a se pagar pelo acúmulo desse poluente nesses animais -- a morte do primeiro filhote. Há outro grande predador no oceano, parece. Esse predador, é claro, somos nós. E também estamos comendo carne que vem de alguns desses mesmos lugares. Essa é a carne de baleia que eu fotografei em um supermercado em Tokyo -- ou não é? De fato, o que fizemos alguns anos atrás foi aprender como manipular um laboratório de biologia molecular em Tokyo e usá-lo para testar genéticamente o DNA de amostras de carne de baleia e identificar quais realmente eram. E algumas dessas amostras realmente eram carne de baleia. Algumas delas eram carnes ilegais, falando nisso. Essa é outra história. Mas algumas delas não eram de baleia. Apesar de estarem rotuladas como tal, eram de golfinho. Algumas delas eram fígado de golfinho. Algumas eram banha de golfinho. E essas partes de golfinhos tinham enorme quantidade de PCBs, dioxinas e metais pesados. E essa enorme quantidade estava sendo transmitida a pessoas que comiam essa carne. Acontece que muitos golfinhos estão sendo vendidos como carne no mercado de carne de baleia ao redor do mundo. É uma tragédia para essas populações. Mas também é uma tragédia para quem as está comendo porque eles não sabem que essa carne é tóxica. Tínhamos essas informações alguns anos atrás. Me lembro de sentar à minha mesa sendo a única pessoa no mundo que sabia que carne de baleia estava sendo vendida nesses mercados na verdade era de golfinho, e era tóxica. Tinha duas a três a 400 vezes a quantidade de toxinas permitidas pela EPA. E eu lembro de sentar à minha mesa pensando, "Bem, eu sei disso. É uma grande descoberta científica." Mas era tão terrível. E pela primeira vez na minha carreira científica eu quebrei o protocolo, que é pegar os dados e publicá-los em periódicos científicos, e então falar sobre eles. Mandamos uma carta educadíssima para o ministro da saúde no Japão e apenas apontamos que essa é uma situação intolerável, não para nós, mas para as pessoas no Japão. Porque mães que podem estar amamentando, que podem ter crianças pequenas, estariam comprando algo que pensam ser saudável, mas na verdade é tóxico. Isso levou a uma série de outras campanhas no Japão. E tenho orgulho de dizer que agora é muito difícil comprar algo no Japão que está rotulado errôneamente, apesar deles ainda venderem carne de baleia, o que acredito que eles não deveriam. Mas pelo menos ela está rotulada corretamente, e você não mais comprará carne de golfinho tóxica. Não é apenas lá que isso acontece, mas na dieta natural de algumas comunidades no ártico Canadense, nos Estados Unidos e no ártico Europeu, uma dieta natural de focas e baleias leva a uma acumulação de PCBs que foram reunidos de todos os cantos do mundo e acabaram nessas mulheres. Essas mulheres tem leite tóxico. Elas não podem amamentar sua prole, suas crianças, o leite de seu peito por causa do acúmulo dessas toxinas em sua cadeia alimentar, na sua parte da pirâmide oceânica mundial. Isso significa que o sistema imunológico delas está comprometido. Isso quer dizer que o desenvolvimento de suas crianças pode estar comprometido. E a atenção mundial nisso na última década têm reduzido o problema para essas mulheres, não por mudar a pirâmide, mas por mudar o que elas comem de cada animal. As tiramos de sua pirâmide natural para resolver esse problema. Isso é algo bom para esse problema em particular, mas não adianta nada resolver o problema da pirâmide. Há outras maneiras de quebrar essa pirâmide. A pirâmide, se introduzirmos coisas em sua base, pode voltar como em um esgoto entupido. E se introduzirmos nutrientes, esgoto, fertilizantes na base dessa pirâmide, eles podem voltar em toda sua extensão. E terminaremos com coisas que já ouvimos antes: marés vermelhas, por exemplo, que são o crescimento de algas tóxicas flutuando pelos oceanos causando danos neurológicos. Também podemos ter o crescimento de bacterias, crescimento de vírus no oceano. Essas são duas fotos de uma maré vermelha invadindo a costa e uma bactéria no gênero vibrião, que inclui o gênero que tem cólera. Quantas pessoas viram uma placa de "praia interditada"? Por que isso acontece? Acontece porque introduzimos tantas coisas na base dessa pirâmide natural oceânica que essas bactérias se entupiram e encheram as nossas praias. Frequentemente o que nos enche é o esgoto. Agora quantos de vocês já foram a um parque estadual ou nacional onde havia uma grande placa na frente dizendo, "Fechado porque o esgoto humano está tão espalhado pelo parque que não se pode usá-lo"? Não com frequência. Não toleraríamos isso. Não toleraríamos nossos parques sendo entupidos de esgoto. Mas muitas praias estão fechadas em nosso país. Elas estão fechadas mais e mais ao redor do mundo pelo mesmo motivo. E acredito que não devíamos tolerar isso também. Não é apenas uma questão de higiene. É também uma questão de como esses organismos se transformam em doenças. Esses vibriões, essas bactérias, podem na verdade infectar pessoas. Elas podem penetrar na sua pela e criar infecções. Esse é um gráfico da iniciativa de saúde oceânica e humana do NOAA, mostrando o crescimento de infecções por vibriões nas pessoas nos últimos anos. Surfistas, por exemplo, inacreditavelmente sabem disso. E se você puder ver alguns sites de surf, de fato, você não apenas vê como são as ondas ou o clima, mas nos sites de alguns surfistas você vê um pequeno alerta de excrementos. Isso significa que essa praia pode ter ótimas ondas, mas é um lugar perigoso para surfistas porque eles podem pegar, mesmo depois de uma ótima surfada, esse legado de uma infecção que pode levar muito tempo para curar. Algumas dessas infecções são na verdade resistentes à antibióticos. E isso as faz ainda mais difíceis de combater. Essas mesmas infecções criam crescimentos de algas nocivas. Esses crescimentos geram outros tipos de agentes químicos. Essa é apenas uma simples lista de alguns tipos de venenos que surgem do crescimento dessas algas nocivas: envenenamento por molusco, ciguatera, envenenamento diarréico por molusco -- vocês vão querer saber disso -- envenenamento neurotóxico e envenenamento paralítico por moluscos. Essas são coisas que estão na nossa cadeia alimentar por causa desses crescimentos exagerados. Rita Calwell traçou muito famosamente uma história interessantíssima de cólera em comunidades humanas, levada lá, não por um vetor humano normal, mas por um vetor marinho, esse copépode. Copépodes são pequenos crustáceos. Eles medem uma minúscula fração de um centímetro. E podem levar nas suas pequenas patas algumas das bactérias da cólera que então leva a doença humana. Isso acendeu a epidemia de cólera em portos ao redor do mundo e levou a uma preocupação crescente para tentar ter certeza de que o correio não levasse esses vetores de cólera pelo mundo. Então o que fazer? Temos grandes problemas em ecossistemas com fluxo interrompido que a pirâmide pode não estar funcionando bem, que o fluxo da base até o topo está sendo bloqueado e entupido. O que você faz quando tem esse tipo de fluxo interrompido? Bem, tem algumas coisas que podem ser feitas. Você pode chamar o Encanador Joe, por exemplo. E ele pode vir e consertar o fluxo. Mas de fato, se você olhar pelo mundo, existem não só lugares em que ainda há esperança onde podemos ser capazes de consertar esse problema, mas há lugares onde isso já foi consertado, onde pessoas agarraram essas questões e começaram a transformá-las. Monterey é um desses lugares. Comecei mostrando quanto tínhamos afligido o ecossistema da baía de Monterey com poluição e a indústria de enlatados e todos os problemas relacionados. Em 1932 essa é a foto. Em 2009 a foto é notavelmente diferente. As indústrias se foram. A poluição foi controlada. Mas há um sentido maior aqui sobre o que as comunidades precisam são ecossistemas que funcionam. Elas precisam de uma pirâmide funcional da base ao topo. E essa pirâmide em Monterey, agora, por causa do esforço de muitas pessoas, está funcionando melhor do que nunca nos últimos 150 anos. Isso não aconteceu por acaso. Aconteceu porque muitas pessoas investiram seu tempo e esforço e seu espírito pioneiro nisso. A esquerda, Julia Platt, a prefeita da minha cidade natal em Pacific Grove. Aos 74 anos, se tornou prefeita porque algo tinha de ser feito para proteger o oceano. Em 1931, ela produziu a primeira área marinha da califórnia protegida pela comunidade, bem próxima a indústria que mais poluía porque Julia sabia que quando as fábricas se fossem, o oceano precisava de um lugar para crescer, que o oceano precisava de um lugar para plantar uma semente. E ela queria fornecer essa semente. Outras pessoas, David Packard e Julie Packard, que foram fundamentais na produção do aquário da baía de Monterey para fixar na mente das pessoas que o oceano e a saúde de seu ecossistema eram tão importantes para a economia dali quanto comer. Essa mudança de pensamento levou a uma mudança drástica, não só nas fortunas da baía de Monterey, quanto em outros lugares pelo mundo. Bem, quero deixá-los com um pensamento que, o que estamos mesmo querendo fazer aqui é proteger a pirâmide oceânica. E essa pirâmide se conecta a nossa própria pirâmide da vida. É um planeta oceânico, e nos imaginamos como espécies terrestres. Mas a pirâmide da vida no oceano e nossas vidas na terra estão fortemente ligadas. E é apenas através de um oceano saudável que podemos permanecer saudáveis. Muito obrigado.
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Esse é o tópico da minha palestra.
[ "esse", "é", "o", "tópico", "da", "minha", "palestra" ]
[ "O", "O", "O", "O", "O", "O", "I-PERIOD" ]
Pode ser algo bem complicado, o oceano. E pode ser algo bem complicado, o que é a saúde humana. E juntá-los pode parecer uma tarefa intimidadora. Mas o que vou tentar dizer é que mesmo nessa complexidade, há alguns assuntos simples que creio que, se entendermos, podemos avançar. E esses assuntos não são na verdade temas sobre a complexa ciência do que está acontecendo, mas de coisas que são bem conhecidas. E vou começar com essa. Se a mamãe não está feliz, ninguém está feliz. Sabemos disso, certo? Passamos por isso. E se pegarmos isso e construirmos a partir disso, então podemos ir ao próximo passo, que é se o oceano não está feliz, ninguém está feliz. Esse é o tópico da minha palestra. E estamos deixando o oceano muito infeliz de diversas maneiras. Essa é uma foto de Cannery Row em 1932. Cannery Row, nessa época, tinha a maior indústria de enlatados da costa oeste. Nós liberamos enormes quantidades de poluição no ar e na água. Rolf Bolin, que era um professor universitário na Hopkin's Marine Station, onde trabalho, escreveu na década de 40 que, "Os gases da espuma que flutuava na enseada da baía eram tão ruins que encardiram tintas á base de chumbo de preto." Trabalhadores dessa indústria dificilmente ficavam ali o dia todo por causa do cheiro. Mas sabem o que eles diziam? Eles diziam, "Sabe o que você respira? Você respira dinheiro." A poluição era renda para a comunidade. E essas pessoas lidaram com a poluição e a absorveram na pele e em seus corpos porque precisavam do dinheiro. Deixamos o oceano infeliz; deixamos pessoas muito infelizes, e as deixamos enfermas. A ligação entre a saúde do oceano e a saúde humana é na verdade baseada em alguns poucos e simples provérbios. E quero chamá-la de "belisque um peixinho, machuque uma baleia." A pirâmide da vida no oceano. Agora, quando um ecologista olha para oceano, tenho de lhes dizer, olhamos para o oceano de uma maneira muito diferente, e vemos coisas distintas das que uma pessoa normal vê nele. Porque quando um ecologista olha para o oceano, vemos todas essas interconexões. Vemos a base da cadeia alimentar, os plânctons, as coisas pequenas, e vemos como esses animais são comida para os animais do meio da pirâmide, e assim por diante no diagrama. E esse fluxo, esse fluxo de vida, desde a base até o topo, é o fluxo que os ecologistas vêem. E isso é o que estamos tentando preservar quando dizemos, "Salve o oceano. Cure-o." É essa pirâmide. Agora por que isso importa para a saúde humana? Porque quando introduzimos algo na base da pirâmide que não devia estar lá, coisas muito assustadoras acontecem. Poluentes, alguns criados por nós, moléculas como os PCBs que não podem ser desfeitos em nosso organismo. E eles vão para a base dessa pirâmide, e eles flutuam, vão sendo transmitidos, para predadores e vão para o topo da pirâmide. E assim, eles acumulam. Agora pra se familiarizar com isso, eu inventei um jogo. Nós não precisamos jogá-lo. Podemos apenas pensar sobre ele. É o jogo do isopor e do chocolate. Imagine que quando chegamos a esse barco, nós recebemos dois flocos de isopor. Não se pode fazer muito com eles a não ser guardar no bolso. Porque as regras são: toda vez que você oferece uma bebida a alguém, você dá a bebida a ela, e lhe dá um floco de isopor também. O que acontecerá é que os flocos de isopor vão se espalhar por essa sociedade. E vão acumular nas pessoas mais bêbadas e pão-duras. Não tem mecanismo nesse jogo para eles irem em algum lugar senão um maior e maior monte de indigestos flocos de isopor. E é exatamente isso que acontece com os PCBs nessa pirâmide alimentar. Eles acumulam no topo dela. Agora suponha que ao invés de isopor, nós pegássemos esses bonitos pequenos chocolates que ganhamos e os tivéssemos. Bem, alguns de nós os comeriam ao invés de dá-los a outros. E ao invés de acumulá-los, eles apenas ficariam em nosso grupo e não em outros. Porque eles são absorvidos por nós. E essa é a diferença entre o PCB e, vamos ver, algo natural como o omega-3, algo que queremos obter da cadeia alimentar marinha. PCBs acumulam. Temos ótimos exemplos disso, infelizmente. PCBs acumulam em golfinhos na Baía de Sarasota, no Texas, na Carolina do Norte. Eles entram na cadeia alimentar. Os golfinhos comem peixes que tem PCBs obtidos dos plânctons, e esses PCBs, sendo solúveis na gordura, acumulam nesses golfinhos. Agora, um golfinho, golfinho mãe, qualquer um -- só há uma maneira de o PCB ser expelido de seu organismo. E qual é? No leite materno. Aqui está um gráfico da quantidade de PCB em golfinhos na baía de Sarasota. Machos adultos, uma enorme quantidade. Jovens, uma enorme quantidade. Fêmeas após ter seu primeiro filhote desmamado, uma quantidade menor. Essas fêmeas, elas não estão tentando. Essas fêmeas estão transmitindo os PCBs na gordura do seus próprios leites para sua cria. E sua cria não sobrevive. A taxa de mortalidade nesses golfinhos, para o primeiro filhote de cada golfinho fêmea, é de 60 a 80 por cento. Essas mães bombeiam sua primeira cria cheia desse poluente. E a maioria morre. Agora, a mãe pode reproduzir normalmente, mas que terrível preço a se pagar pelo acúmulo desse poluente nesses animais -- a morte do primeiro filhote. Há outro grande predador no oceano, parece. Esse predador, é claro, somos nós. E também estamos comendo carne que vem de alguns desses mesmos lugares. Essa é a carne de baleia que eu fotografei em um supermercado em Tokyo -- ou não é? De fato, o que fizemos alguns anos atrás foi aprender como manipular um laboratório de biologia molecular em Tokyo e usá-lo para testar genéticamente o DNA de amostras de carne de baleia e identificar quais realmente eram. E algumas dessas amostras realmente eram carne de baleia. Algumas delas eram carnes ilegais, falando nisso. Essa é outra história. Mas algumas delas não eram de baleia. Apesar de estarem rotuladas como tal, eram de golfinho. Algumas delas eram fígado de golfinho. Algumas eram banha de golfinho. E essas partes de golfinhos tinham enorme quantidade de PCBs, dioxinas e metais pesados. E essa enorme quantidade estava sendo transmitida a pessoas que comiam essa carne. Acontece que muitos golfinhos estão sendo vendidos como carne no mercado de carne de baleia ao redor do mundo. É uma tragédia para essas populações. Mas também é uma tragédia para quem as está comendo porque eles não sabem que essa carne é tóxica. Tínhamos essas informações alguns anos atrás. Me lembro de sentar à minha mesa sendo a única pessoa no mundo que sabia que carne de baleia estava sendo vendida nesses mercados na verdade era de golfinho, e era tóxica. Tinha duas a três a 400 vezes a quantidade de toxinas permitidas pela EPA. E eu lembro de sentar à minha mesa pensando, "Bem, eu sei disso. É uma grande descoberta científica." Mas era tão terrível. E pela primeira vez na minha carreira científica eu quebrei o protocolo, que é pegar os dados e publicá-los em periódicos científicos, e então falar sobre eles. Mandamos uma carta educadíssima para o ministro da saúde no Japão e apenas apontamos que essa é uma situação intolerável, não para nós, mas para as pessoas no Japão. Porque mães que podem estar amamentando, que podem ter crianças pequenas, estariam comprando algo que pensam ser saudável, mas na verdade é tóxico. Isso levou a uma série de outras campanhas no Japão. E tenho orgulho de dizer que agora é muito difícil comprar algo no Japão que está rotulado errôneamente, apesar deles ainda venderem carne de baleia, o que acredito que eles não deveriam. Mas pelo menos ela está rotulada corretamente, e você não mais comprará carne de golfinho tóxica. Não é apenas lá que isso acontece, mas na dieta natural de algumas comunidades no ártico Canadense, nos Estados Unidos e no ártico Europeu, uma dieta natural de focas e baleias leva a uma acumulação de PCBs que foram reunidos de todos os cantos do mundo e acabaram nessas mulheres. Essas mulheres tem leite tóxico. Elas não podem amamentar sua prole, suas crianças, o leite de seu peito por causa do acúmulo dessas toxinas em sua cadeia alimentar, na sua parte da pirâmide oceânica mundial. Isso significa que o sistema imunológico delas está comprometido. Isso quer dizer que o desenvolvimento de suas crianças pode estar comprometido. E a atenção mundial nisso na última década têm reduzido o problema para essas mulheres, não por mudar a pirâmide, mas por mudar o que elas comem de cada animal. As tiramos de sua pirâmide natural para resolver esse problema. Isso é algo bom para esse problema em particular, mas não adianta nada resolver o problema da pirâmide. Há outras maneiras de quebrar essa pirâmide. A pirâmide, se introduzirmos coisas em sua base, pode voltar como em um esgoto entupido. E se introduzirmos nutrientes, esgoto, fertilizantes na base dessa pirâmide, eles podem voltar em toda sua extensão. E terminaremos com coisas que já ouvimos antes: marés vermelhas, por exemplo, que são o crescimento de algas tóxicas flutuando pelos oceanos causando danos neurológicos. Também podemos ter o crescimento de bacterias, crescimento de vírus no oceano. Essas são duas fotos de uma maré vermelha invadindo a costa e uma bactéria no gênero vibrião, que inclui o gênero que tem cólera. Quantas pessoas viram uma placa de "praia interditada"? Por que isso acontece? Acontece porque introduzimos tantas coisas na base dessa pirâmide natural oceânica que essas bactérias se entupiram e encheram as nossas praias. Frequentemente o que nos enche é o esgoto. Agora quantos de vocês já foram a um parque estadual ou nacional onde havia uma grande placa na frente dizendo, "Fechado porque o esgoto humano está tão espalhado pelo parque que não se pode usá-lo"? Não com frequência. Não toleraríamos isso. Não toleraríamos nossos parques sendo entupidos de esgoto. Mas muitas praias estão fechadas em nosso país. Elas estão fechadas mais e mais ao redor do mundo pelo mesmo motivo. E acredito que não devíamos tolerar isso também. Não é apenas uma questão de higiene. É também uma questão de como esses organismos se transformam em doenças. Esses vibriões, essas bactérias, podem na verdade infectar pessoas. Elas podem penetrar na sua pela e criar infecções. Esse é um gráfico da iniciativa de saúde oceânica e humana do NOAA, mostrando o crescimento de infecções por vibriões nas pessoas nos últimos anos. Surfistas, por exemplo, inacreditavelmente sabem disso. E se você puder ver alguns sites de surf, de fato, você não apenas vê como são as ondas ou o clima, mas nos sites de alguns surfistas você vê um pequeno alerta de excrementos. Isso significa que essa praia pode ter ótimas ondas, mas é um lugar perigoso para surfistas porque eles podem pegar, mesmo depois de uma ótima surfada, esse legado de uma infecção que pode levar muito tempo para curar. Algumas dessas infecções são na verdade resistentes à antibióticos. E isso as faz ainda mais difíceis de combater. Essas mesmas infecções criam crescimentos de algas nocivas. Esses crescimentos geram outros tipos de agentes químicos. Essa é apenas uma simples lista de alguns tipos de venenos que surgem do crescimento dessas algas nocivas: envenenamento por molusco, ciguatera, envenenamento diarréico por molusco -- vocês vão querer saber disso -- envenenamento neurotóxico e envenenamento paralítico por moluscos. Essas são coisas que estão na nossa cadeia alimentar por causa desses crescimentos exagerados. Rita Calwell traçou muito famosamente uma história interessantíssima de cólera em comunidades humanas, levada lá, não por um vetor humano normal, mas por um vetor marinho, esse copépode. Copépodes são pequenos crustáceos. Eles medem uma minúscula fração de um centímetro. E podem levar nas suas pequenas patas algumas das bactérias da cólera que então leva a doença humana. Isso acendeu a epidemia de cólera em portos ao redor do mundo e levou a uma preocupação crescente para tentar ter certeza de que o correio não levasse esses vetores de cólera pelo mundo. Então o que fazer? Temos grandes problemas em ecossistemas com fluxo interrompido que a pirâmide pode não estar funcionando bem, que o fluxo da base até o topo está sendo bloqueado e entupido. O que você faz quando tem esse tipo de fluxo interrompido? Bem, tem algumas coisas que podem ser feitas. Você pode chamar o Encanador Joe, por exemplo. E ele pode vir e consertar o fluxo. Mas de fato, se você olhar pelo mundo, existem não só lugares em que ainda há esperança onde podemos ser capazes de consertar esse problema, mas há lugares onde isso já foi consertado, onde pessoas agarraram essas questões e começaram a transformá-las. Monterey é um desses lugares. Comecei mostrando quanto tínhamos afligido o ecossistema da baía de Monterey com poluição e a indústria de enlatados e todos os problemas relacionados. Em 1932 essa é a foto. Em 2009 a foto é notavelmente diferente. As indústrias se foram. A poluição foi controlada. Mas há um sentido maior aqui sobre o que as comunidades precisam são ecossistemas que funcionam. Elas precisam de uma pirâmide funcional da base ao topo. E essa pirâmide em Monterey, agora, por causa do esforço de muitas pessoas, está funcionando melhor do que nunca nos últimos 150 anos. Isso não aconteceu por acaso. Aconteceu porque muitas pessoas investiram seu tempo e esforço e seu espírito pioneiro nisso. A esquerda, Julia Platt, a prefeita da minha cidade natal em Pacific Grove. Aos 74 anos, se tornou prefeita porque algo tinha de ser feito para proteger o oceano. Em 1931, ela produziu a primeira área marinha da califórnia protegida pela comunidade, bem próxima a indústria que mais poluía porque Julia sabia que quando as fábricas se fossem, o oceano precisava de um lugar para crescer, que o oceano precisava de um lugar para plantar uma semente. E ela queria fornecer essa semente. Outras pessoas, David Packard e Julie Packard, que foram fundamentais na produção do aquário da baía de Monterey para fixar na mente das pessoas que o oceano e a saúde de seu ecossistema eram tão importantes para a economia dali quanto comer. Essa mudança de pensamento levou a uma mudança drástica, não só nas fortunas da baía de Monterey, quanto em outros lugares pelo mundo. Bem, quero deixá-los com um pensamento que, o que estamos mesmo querendo fazer aqui é proteger a pirâmide oceânica. E essa pirâmide se conecta a nossa própria pirâmide da vida. É um planeta oceânico, e nos imaginamos como espécies terrestres. Mas a pirâmide da vida no oceano e nossas vidas na terra estão fortemente ligadas. E é apenas através de um oceano saudável que podemos permanecer saudáveis. Muito obrigado.
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E estamos deixando o oceano muito infeliz de diversas maneiras.
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